“PASSAPORTE PARA ROUBAR” – José Nilton Mariano Saraiva
Circunscrita, de princípio, às
nossas fronteiras (e à covarde e bovina passividade do nosso povo), de repente
a “coisa” assumiu ares cosmopolitas, porquanto destaque em horário nobre nos
principais jornais televisivos mundo afora, em razão, principalmente, de ter como
principal protagonista um dos “filhos-numerais” (Flávio Bolsonaro, o
primogênito) do atual Presidente da República, (Jair Bolsonaro) contando com a inestimável
e inescrupulosa ajuda de um miliciano de alta periculosidade (Fabrício Queiroz)
que, de simples motorista do dito-cujo (como ficou conhecido no começo), passou
a ser decantado como um “expert”, verdadeiro “mago” em termos de finanças.
Aos fatos.
À época, eleito Deputado Estadual
(pelo Rio de Janeiro) e já tendo absorvido in totum todos os “nobres
ensinamentos” professados pelo pai (então Deputado Federal e integrante do
baixo clero da Câmara), o filhão querido montou, dentro do seu gabinete
parlamentar (com a inestimável ajuda do “motorista” Fabrício Queiroz,
recomendado pelo pai), o esquema conhecido por “rachadinha”.
Aos leigos, a tal “rachadinha”
nada mais é que o “recolhimento compulsório” ao final de cada mês (e quem não
topar que peça pra sair), de um avantajado percentual do salário de cada um dos
funcionários do gabinete, em favor do “chefe” (aquele lance de “dá com uma mão
e tomar com a outra” ou mesmo uma espécie de “dízimo”, tão comum entre os
evangélicos, tal qual o patrão o é).
Fato é que tal “fábrica” de
gerar dinheiro (sem fazer força) permitiu que o filho-numeral seja hoje detentor
de um patrimônio absolutamente incompatível com a sua remuneração (são lojas em
shopping, apartamentos, uma montanha de dinheiro vivo, imóveis e por aí vai).Lavagem
de dinheiro, na mais completa acepção do termo.
O resto da história todo mundo
sabe: denunciaram, primeiro, o motorista Fabrício Queiroz, que passou meses escondido
na casa do próprio advogado (Wassef) do pai-Presidente e, quando encontrado (por
mero descuido), deram um jeito e fazê-lo curtir uma prisão-domiciliar tranquila,
de onde continua dando ordens.
Já o “filhão-numeral” (hoje
Senador da República), denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro pelos crimes de
organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro, contratou uma
banca advocatícia de peso (tá gastando parte do que roubou) de sorte que, através
de recursos e mais recursos, a “coisa” foi indo, foi indo, até chegar à Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília.
Que achou por bem “anular a
quebra do sigilo bancário e fiscal” do dito-cujo, sob a pífia argumentação da
existência de “problemas de fundamentação
na decisão judicial anterior” e de que ”não há
indícios de que o parlamentar tenha cometido os crimes de lavagem de dinheiro e
de falsidade ideológica” (eles sempre arranjam um “brecha” quando se
trata de “cliente” com bala na agulha).
Os votos favoráveis a Flávio
Bolsonaro partiram dos ministros João Otávio Noronha, Reinaldo Soares da
Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Parcionik, que divergiram do relator,
ministro Félix Fischer.
Alfim, se vigorar e prevalecer
tal decisão, os marginais detentores do vil metal (e são muitos) já sabem como
obter o seu “passaporte para roubar” e, mais que isso, chancelado pelas excelências
togadas dos nossos tribunais superiores.
É só seguir, pari passu, o itinerário
feito pelo filhão-numeral-bandido.
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