O “JOGO PESADO”... DO VATICANO - José Nilton Mariano Saraiva
Quem conhece um pouco da história da Igreja Católica Apostólica Romana sabe, perfeitamente, que por trás dos indevassáveis muros do Vaticano e ao longo dos seus incontáveis corredores e porões, entre abraços de tamanduá, tapinhas nas costas e falsos sorrisos, existe uma espécie de briga de foice em quarto escuro, na oportunidade em que se tem de escolher um novo Papa; conchavos, corrupção, falsidade, traição, oferecimento de vantagens, tráfico de influência, concessões e o escambau são a essência dos encontros cardinalícios quando da escolha do sucessor de Pedro.
Assim, quando a “fumaça branca” emerge da cafonérrima chaminé do Vaticano, anunciando ao mundo a escolha do novo Papa, o jogo jogado até ali terá sido pesado e desleal, e nem sempre o resultado do conclave é do agrado de todos.
Quem não lembra do alegre cardeal italiano Luciane, que após entronizado e rebatizado como João Paulo I, em pouco mais de um mês no exercício da função foi encontrado morto em seus aposentos, suspeito de ter sido envenenado por discordar do “modus operandi” vigente ???
Assim, no Vaticano nada difere das diversas arenas políticas espalhadas pelo mundo, quando da eleição de mandatários nos mais diversos países. É o tal “componente político”, que na cúpula da Igreja Católica também se faz presente, sim.
Por essa razão, aquele que consegue “chegar lá”, trata de segurar o bastão por cima de pau e pedra (se possível até o instante em que “bate as botas”), nem que para tanto tenha que enfrentar constrangimentos mil (conforme nos mostrou o carismático polonês João Paulo II, que, acometido de todo tipo de doença - Parkinson, demência, dificuldade motora, etc), não largou o osso de forma alguma. Foi duro na queda.
Surpresa, sim, houve, quando, quase chegando aos 80 anos, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, radical ex-integrante da juventude nazista e ultraconservador, conseguiu sucedê-lo, após acirrado conclave; afinal, havia a expectativa de uma nova era para a Igreja, uma nova postura ante os desafios do mundo moderno.
No entanto, pós eleição, Ratzinger (agora Bento XVI) manteve sua postura de distanciamento ao que acontecia no seu entorno, já que os ultrapassados e envelhecidos dogmas da Igreja Católica jamais foram ameaçados; assim, celibato, divórcio, aborto, contraceptivos, punição de padres pedófilos, alinhamento político do clero com causas sociais e políticas do terceiro mundo, enfim, desafios típicos do contemporâneo mundo foram deixados de lado.
Para surpresa de todos, eis que, apenas oito anos após sentar-se no trono papal, cansado, abatido e sob uma pressão insuportável, Bento XVI anunciou que iria “se mandar” (renunciar ao trono de Pedro), deixando seu rebanho na orfandade (e de um pai vivo).
E aí, a revelação “bombástica”: na cúpula da Igreja Católica, anunciou ele, vige, sim,... "a hipocrisia religiosa, o comportamento dos que querem aparentar, as atitudes que buscam os aplausos e a aprovação" (ipsis litteris).
Portanto, se nada fez de produtivo durante sua gestão de 08 anos à frente da Igreja Católica Apostólica Romana, o alemão de certa forma se redimiu ao anunciar aos seus pares, de viva voz, aquilo que todo mundo já desconfiava: no Vaticano, cerne do cristianismo, impera a discórdia, o jogo sujo, a luta (fratricida e desonesta) pelo poder. Enfim, o “componente político”.
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