FORMAR UM FILHO... “DOUTOR” – José Nilton Mariano Saraiva
Durante o pavoroso regime
nazista comandado por Adolf Hitler (e evidentemente que sem entender da
profundidade do tema), muitas mães implicitamente incorriam na traumática “escolha
de Sofia”: aquele horripilante e pavoroso lance em que uma mãe judia prisioneira
era literalmente obrigada a “sacrificar” um dos rebentos em detrimento de outro,
porquanto, se não o fizesse, ali, na hora, ao invés de um (o menino ou a menina
???) os dois, seriam “premiados” com um banho letal de cianureto, nas câmaras
de gás.
Pois bem, a reflexão é só pra
lembrar que, desde tempos imemoriais, principalmente no seio de famílias menos
favorecidas do “interiozão brabo” desse nosso Brasil varonil, principalmente na
área rural (e temos parentes que aqui se incluem), o desejo acalentado e
inconteste de pais e mães sempre foi o de ... “FORMAR UM FILHO DOUTOR” (aqui
entendido como o graduar-se em Medicina). Para tanto, estavam a praticar a “escolha
de Sofia”.
É que, por absoluta carência
de recursos necessários à contemplação de mais de um (e como à época vigorava o
conceito de que “onde come um comem dez” e o tal “controle da natalidade” era
uma miríade distante), o “fazer filhos” era a regra de uma família paupérrima, na
maioria das vezes objetivando uma futura e decisiva ajuda na luta pela
sobrevivência, ali, na roça, no cabo da enxada (excetuando-se, como explicitado
acima e restou comprovado a posteriori, aquele a quem se destinaria o “olimpo”,
na cidade grande).
Mas aí, em muitas oportunidades,
o próprio rebento “premiado”, depois de ralar muito e ser aprovado no mais
concorrido dos vestibulares, depois de encher os pais de orgulho, depois de
seis anos de dedicação “full time” visando tornar realidade o sonho dos pais, pois
bem, não mais que de repente descobre não ter vocação para a coisa e que havia,
sim, um meio mais fácil de “se fazer na
vida”: o ingresso na corrupta atividade política.
Assim, e lamentavelmente
(devido à carência de profissionais numa área ainda tão prioritária) muitos dos
que se formaram “DOUTOR” à custa do esforço sobre-humano dos
pais, nunca fizeram um simples curativo, sequer manipularam uma seringa, jamais
prescreveram qualquer medicação a algum paciente e - quem sabe - jamais
adentraram em um hospital ou posto de saúde, se mudaram de mala e cuia para o “eldorado” mafioso da política carreirista.
E para tanto, aí sim, passaram a usar e abusar da patente de “Doutor”, a fim de
“abrir portas” (o vistoso e reluzente “anel no dedo” em muito contribuía).
Adstringindo-se à nossa praia
(o Ceará) na capital e interior temos “doutores” em profusão no exercício dos
cargos de vereador, prefeito e deputado (todos ricos), sem que nunca tenham
exercitado a “atividade-fim” da formação acadêmica (e os filhos são
encaminhados para tal).
Assim, o sonho dos pais,
acalentado durante anos e anos, jaz esquecido e deixado para trás, por obra e
graça dos “encantos” e da facilidade que a atividade política oferece de “se
fazer na vida” rapidamente (mesmo que por métodos heterodoxos). Definitivamente,
os tempos são outros.
Alfim, há que se destacar, sob
pena de não o fazendo injustiçá-los, que os vocacionados para o mister, aqueles
que realmente “vestiram a camisa” desde o ingresso na faculdade e até a
pós-formatura não medem esforços, são, sim, dignos e merecedores de encômios e
de reconhecimento público, pelo verdadeiro “sacerdócio” no dia-a-dia de uma
atividade estressante e sofrida. Afinal, além de não os frustrarem, se
mantiveram fiéis ao sonho dos pais de um dia... “FORMAR UM FILHO DOUTOR”.
Poderão, mais à frente, após “passados na casca-do-alho” de uma longa experiência no “laboratório da vida” (o exercício diuturno da Medicina) ingressar na arena política objetivando melhorar a vida dos menos favorecidos, aos quais acompanharam “pari-passu”.
Para
tanto, adquiriram ao longo do caminho o competente “know-how”.
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