Por detrás da casa de Seu João Preto, no Tatu, havia uma cajaraneira frondosa, bem numa cabeça de alto donde a gente avistava o vale dos lados da Santa Catarina. Víamos o brejo da cana, o Riacho do Meio e paisagem longa, que escorria pelo horizonte azulado. Descia ladeira íngreme que dava em um bosque de jurema lá embaixo. Nesse ponto se notava nítida a diferença do solo típico sertanejo, pois mostrava terra arenosa, esbranquiçada, espécie de restos de pedras trituradas, bem característicos, qual sendo doutras eras, e que guardasse histórias sob aquela capa de chão macerado pelo tempo. Nisso, eu viajava na imaginação, considerando presenciar de perto relíquias acumuladas de um passado distante, a trazer sinais de outra civilização que tivesse existido nas cercanias e desaparecera com os milênios findos. Sempre que andava ali, demorava nalguns momentos a considerar tal possibilidade, vinda ao acaso no juízo fértil de criança.
E quantos e tantos lugares são assim, cheios de lembranças
soltas de outras horas, destes povos que somos nós, insólitos e vagos segmentos
do Sol. Às vezes, recentes resquícios até de pessoas ainda presentes em dias
anteriores; outras, porém, de longe, de quando nem testemunhas ainda seríamos,
marcas indeléveis deixadas pelo fluir incessante das horas. Enquanto
resistentes ao rio do Tempo, permanecemos no que somos agora diante desse todo
universal, desde quando, que inícios tivemos, nítida interrogação transportamos pelas rotas disso em que vivemos.
Quais instrumentos destinados a decodificar o mistério do
Infinito, mergulhamos no depois, romeiros livres que o somos, senhores de
segredos que venhamos, certa vez, a revelar. Livros abertos que falam sozinhos das
histórias aqui vividas no transcorrer das existências. Esforços de não
desaparecer, civilizações insistem gravar nas rochas, nos lugares, nas areias, suas
marcas, nalgumas ocasiões notadas, talvez, que preenchem de páginas a Natureza
aberta.
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