“MONUMENTOS À INSENSATEZ” - José Nilton Mariano Saraiva
Quando o “agente público” se dispõe a contratar, a peso de ouro, uma grande construtora para a realização de obras estruturais de porte (hidroelétricas, rodovias, usinas, ferrovias, metrôs e por aí vai), implícita e explicitamente se pactua a responsabilidade da contratada em prover não só os recursos humanos especializados, mas, principalmente, todo o equipamento pesado e necessário para a consecução do planejado (o pacote vem completo, e firmado o preto no branco). É assim (ou deveria ser) em todo lugar do mundo.
No Estado do Ceará, no entanto, quando da gestão dos megalomaníacos irmãos Ferreira Gomes, a coisa não funcionou bem assim. E a prova da irresponsabilidade nos foi dada quando tomamos conhecimento da herança maldita deixada pelo ex-governador Cid Ferreira Gomes para o seu afilhado político e sucessor Camilo Santana: o “rico” Estado do Ceará “torrou” incríveis e exorbitantes R$ 135.000.000,00 (cento e trinta e cinco milhões de reais) com a COMPRA (repetimos, COMPRA) de dois “tatuzões”, tipo de maquinário usado na perfuração/ construção de metrôs (na ocasião, denúncia foi apresentada na Assembleia Legislativa por um dos deputados da oposição, sem que haja progredido, ante o “rolo compressor” (maioria) do governo).
Há que se levar em conta, a fim que tenhamos condição de imaginar a dimensão da verdadeira “insanidade” perpetrada pelo então governador do Estado, que, à época, além do “preço galático” de tão sofisticado equipamento, estranhamente “pequenos-grandes” detalhes foram “esquecidos” ou desconsiderados, a saber:
01) para manobrar/operacionalizar tais equipamentos, obrigatoriamente serão necessários “técnicos especializados” e, consequentemente, hiper bem remunerados, onerando sobremaneira o já combalido orçamento estadual (comenta-se, inclusive, que no mercado interno não existe disponível tal profissional, tornando-se necessário buscá-los lá fora);
02) até a “vovozinha de Taubaté" sabe que, à época, o Estado do Ceará não tinha a mínima condição de suprir a energia elétrica (e até a própria “voltagem”) a ser usada para acionar referidas máquinas, o que, em termos práticos, significa que o tal maquinário simplesmente não poderia sequer ser “plugado na tomada”; e, finalmente,
03) se algum dia, num futuro distante, tal equipamento tiver condição de ser utilizado, mesmo que por breve período, é perfeitamente factível questionar qual a destinação que lhe será dada “a posteriori”, na perspectiva de que Fortaleza não terá tão cedo condição (econômico-financeira) de comportar/construir linhas de metrô a torto e a direito.
Alfim, embora saibamos seja o senhor Cid Ferreira Gomes graduado em Engenharia Civil (embora nunca tenha projetado ou sequer erguido uma banal choupana de taipa), é perfeitamente admissível deduzirmos que o então governador, ante tão esdrúxula decisão e gasto, haja incorrido e praticado grave ato de “improbidade administrativa”, porquanto comprovadamente perdulário no uso do dinheiro público, já que desconsiderando a “inoportunidade” e “desnecessidade” de adquirir equipamento tão sofisticado e de uso temporal, num Estado onde recorrente e persistentemente grassa a fome, a sede e a miséria.
Assim, face à deficitária (ou inexistente) relação “custo-benefício” implícita em sua aquisição, os onerosos e inoperantes “tatuzões” do Cid Gomes tenderão a se tornar, ao longo do tempo, símbolos frios, imóveis, desgastados, e emblemáticos do descaso e desrespeito para com a seriedade e à sociedade.
Verdadeiros MONUMENTOS À INSENSATEZ.
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