NA ARTE DA “PINTURA”, O REDESCOBRIR DA VIDA - José Nilton Mariano Saraiva
Pintor famoso, sessentão, aposentado, família
constituída, estabilizado na vida, eis que, de repente, se vê tomado por um
profundo desejo de “sumir do mapa”, dar um basta naquele vazio imenso e doído que,
sem mais nem menos, dele se apoderou.
“Depressão” e depressão da braba, que o
leva até a adquirir uma arma visando acabar logo com aquilo – para, quem sabe ?
- encontrar um pouco de sossego, paz. Na hora de apertar o gatilho, no entanto,
reflui, não tem coragem de fazê-lo; e aí, resolve sair pelo mundo no rumo que a
“venta” (nariz) apontar. Logo se põe na estrada, sem qualquer compromisso com
horário ou destino, dia ou noite.
Numa parada momentânea, em meio a uma
chuva torrencial, batidas no vidro do carro lhe revelam o rosto apreensivo de
uma jovem, encharcada pela tempestade. Mesmo a contragosto, aceita dar-lhe
carona, “pra qualquer lugar”, conforme lhe determina a nova companhia.
De pronto, à sisudez do sessentão
deprimido, contrapõe-se o comportamento irrequieto e questionador daquela
adolescente que poderia ser sua filha e que, aos poucos, paulatinamente,
consegue fazê-lo “se abrir”. Contribui para tanto, o fato de também ela ter
saído de casa, expulsa pela mãe e padrasto, e não saber (ou não ter) pra onde
ir.
Ao contrário do que normalmente acontece
em dramas análogos, aqui o “velho” não tenta aproveitar-se da “jovem” de 17
anos, belíssima, escultural e desamparada. Pelo contrário, aos poucos cria uma
afeição paternal tão grande por ela, de tal forma que chega a enfrentar alguns
marginais (de rifle em punho) que tentavam abusá-la.
No dia a dia, Marylou (esse o nome da
jovem) inocentemente se sente à vontade para chamá-lo de “velho”, reclamar da
“cafonice” das suas roupas e por aí vai. E ele, que ultimamente não suportava nem
ouvir a voz da própria esposa, passivamente aceita tudo no maior bom humor,
numa boa. Chega, até, a sorrir das trapalhadas em que ela se envolve
(principalmente no quesito comida).
O divisor de água, no entanto, se dá
quando ela (que pensava ser ele um “pintor de paredes”) vê alguns de seus trabalhos e, de tão impressionada, o
estimula a “fazer mais”. Ela mesma, na praia, serve de modelo (bem comportada).
E aí ele redescobre, na pintura, o prazer pela vida, sente que “está vivo”.
De repente, a notícia estampada no jornal,
de que a mãe se encontra à beira da morte em razão das agressões do padrasto,
leva a “jovem” a fazer o caminho de volta, na companhia, é claro, do “velho”.
Que aproveita para reatar com a esposa.
Durante a longa permanência da mãe na UTI,
pra não deixar Marylou desamparada, de comum acordo com a “revigorada” esposa,
ele consegue na Justiça a “guarda” daquela menina que praticamente lhe trouxe
de volta à vida.
No final, com a mãe restabelecida e o
padrasto preso, os dois retornam às origens: numa despedida pra lá de dolorosa
para os dois, tão grande a afeição nascida, Marylou volta pra casa da mãe; o
“velho” (Taillandier é o seu nome) pra sua casa, sua família. Renascido, por
uma menina que lhe trouxe de volta à vida e que, a partir de então, considerará
sua filha.
Sem dúvida, “SEJAM MUITO BEM-VINDOS” é um
cativante filme e digno de se ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário