terça-feira, 4 de novembro de 2025

Agricultores de Estrela

 


Alexandre Lucas

Vontade de pichar os céus só para dizer o quanto sinto. Nossos manifestos de amor são escritos sobre os olhos, arados na terra, debaixo dos lençóis, pelas manhãs com café e cafuné, na simplicidade de lavar a louça, na rega das plantas, na oferta da batata doce, na pimenta e no chocolate. Falta respiração; a velocidade dos acontecimentos nos faz dançar. São versos costurados no mistério e no segredo. Cabe o céu e a terra no poema sonhar.

Hoje fiquei na dúvida, na verdade sem respostas. Não sabia direito o que escrever ou oferecer. Teria um trabalho imenso para enumerar a intensidade, as trocas, o sorriso fácil, os olhos brilhantes, a comida dividida entre o verde e a varanda. O sanhaço  se equilibrando no fio, bicando banana logo cedo. Não saberia por onde começar, se por um chá ou pelas entregas de ofícios. Afinal, não existe uma linha reta que borde uma poesia.

Escreveria todas as cartas de amor de novo e te reenviaria, porque hoje é primavera. Ontem ainda era, e amanhã talvez não possa ser. Um dia elas acabam, mas hoje quero viver, mesmo sabendo que a liberdade e o sonho têm seus limites. É quase um ponto final, porque nada se acaba; a vida é sempre uma reviravolta.

Pichei na epiderme da alma, onde só nós podemos enxergar o tamanho do abrigo e o gosto do beijo escancarado de doçura. O amor, de vez em quando, é um quartinho cheio do mundo, que não dá vontade de sair.

Hoje poderia ser feriado para nos embrulharmos de nós. Faria café encorpado, dividiria morangos, uvas e as flores dos olhos, e te convidaria para construir uma torre de sorrisos, uma fábrica de nuvens e fazer a aquisição de um triturador de pesos, já que o mundo é pesado.

Escritor