Alexandre Lucas
Vontade de pichar
os céus só para dizer o quanto sinto. Nossos manifestos de amor são escritos
sobre os olhos, arados na terra, debaixo dos lençóis, pelas manhãs com café e
cafuné, na simplicidade de lavar a louça, na rega das plantas, na oferta da
batata doce, na pimenta e no chocolate. Falta respiração; a velocidade dos
acontecimentos nos faz dançar. São versos costurados no mistério e no segredo.
Cabe o céu e a terra no poema sonhar.
Hoje fiquei na
dúvida, na verdade sem respostas. Não sabia direito o que escrever ou oferecer.
Teria um trabalho imenso para enumerar a intensidade, as trocas, o sorriso
fácil, os olhos brilhantes, a comida dividida entre o verde e a varanda.
O sanhaço se equilibrando no fio, bicando banana logo cedo. Não
saberia por onde começar, se por um chá ou pelas entregas de ofícios. Afinal,
não existe uma linha reta que borde uma poesia.
Escreveria todas as
cartas de amor de novo e te reenviaria, porque hoje é primavera. Ontem ainda
era, e amanhã talvez não possa ser. Um dia elas acabam, mas hoje quero viver, mesmo
sabendo que a liberdade e o sonho têm seus limites. É quase um ponto
final, porque nada se acaba; a vida é sempre uma reviravolta.
Pichei na epiderme
da alma, onde só nós podemos enxergar o tamanho do abrigo e o gosto do beijo
escancarado de doçura. O amor, de vez em quando, é um quartinho cheio do mundo,
que não dá vontade de sair.
Hoje poderia ser
feriado para nos embrulharmos de nós. Faria café encorpado, dividiria
morangos, uvas e as flores dos olhos, e te convidaria para construir uma torre
de sorrisos, uma fábrica de nuvens e fazer a aquisição de um
triturador de pesos, já que o mundo é pesado.
Escritor

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