quinta-feira, 9 de agosto de 2007

BlogPoem: IMUTÁVEL - Dihelson Mendonça

Imutável

“O que não muda está morto”
Beethoven


Não! Não foi a vida que me tirou o encanto,
Não foram as dores de um parto sombrio

Nem o canto triste de um outono distante
Ou o soluçar buliçoso de um mar bravio

Caos! desperta-me deste sonho aflito

- largo oceano, impávido, marmóreo -
Cinzas frias, outrora um incensório

A inflamar quimeras neste século maldito?

Carnes pútrefas que uma gleba rubra ansia
Já triste, a descer à sepultura inerme,
Herança - imutável coorte de mistério ...

Mordo a rocha, resvalo o véu do tempo
mas no sudário mais precípuo ‘inda ostento
A negra cara atroz de um cemitério!

Dihelson Mendonça, 19-03-2005








(gravura que ilustra a postagem: Saturno devorando seus filhos, de Francisco José de Goya y Lucientes (Fuendetodos, Saragoça, Espanha, 30 de março de 1746 - † Bordéus, França, 15 de abril de 1828), pintor e gravador espanhol.


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