terça-feira, 28 de agosto de 2007

John, Paul, George, Ringo e... Brian


Há 40 anos morria Brian Epstein, empresário que desempenharia papel fundamental para que o mundo viesse a conhecer uma pequena banda de rock inglesa chamada The Beatles

Começo de história: “Eles eram pobres, e eu não era rico. Mas nós todos festejamos com rum, uísque e coca-cola, mistura que estava se tornando uma espécie de ‘drink beatle’ já naquela época”. Palavras de Brian Epstein sobre as tentativas de conseguir gravadora para uma promissora banda inglesa em início de carreira, registradas na coletânea de seis CDs “The Beatles Anthology”. Material que reúne sobras de estúdio e versões alternativas de faixas do grupo que, mais de 35 anos após o fim de suas atividades, segue encantando ouvintes de várias gerações mundo afora. Falecido aos 32 anos, em 27 de agosto de 1967, Epstein já teria garantido seu lugar na história da música popular por ter participado de forma decisiva da carreira dos Beatles, viabilizando a expansão do público e o fenômeno da beatlemania de Liverpool para a Inglaterra, para a Europa, para os Estados Unidos, para boa parte do mundo.

Seus méritos se ampliam, porém, ao se levar em conta sua contribuição para a própria invenção do “showbizz”, desenhando, ainda nos anos 60, muitos dos caminhos de divulgação massiva da música popular que se mantêm até hoje, como a articulação entre a venda de discos pelas gravadoras, a divulgação nas grandes emissoras de TV e rádio, a produção de videoclipes, a rodagem de longas-metragens para cinema, a realização de shows em turnês internacionais e o desenvolvimento do “merchandising” com diversos produtos relacionados aos artistas (vide, por exemplo, as famosas perucas dos Beatles, vendidas não apenas como souvenirs, em um tempo em que ter cabelo grande significava rebeldia e resistência). Não só musicalmente, mas também em todos esses pontos os Beatles inovaram. Com o devido crédito àquele que os empresariou até 1967, atravessando os anos do olho de furacão da beatlemania, descritos pelo guitarrista George Harrison como capazes de esgotar o sistema nervoso de qualquer um.

De família de origem judaica, Brian Epstein começou a trabalhar com música, depois de ter almejado carreiras como o estilismo e o teatro, como gerente de uma loja de discos e instrumentos, a NEMS, fundada por seu avô, Isaac Epstein. Também escrevia artigos sobre música para o jornal Mersey Beat, antes de, já como empresário dos Beatles, protagonizar a lenda pela qual teria comprado do próprio bolso centenas de cópias do primeiro compacto da banda, para aumentar o interesse pelo grupo. Mitos à parte, o disquinho com duas composições de Lennon e McCartney chegou ao 17º lugar das paradas e ajudou Brian a abrir portas mais ambiciosas para o grupo, dali por diante. Depois dali viriam “Please please me”, “From me to you”, “I wanna hold your hand” e vários outros singles “número 1” para os rapazes de Liverpool.

A loja de discos foi decisiva inclusive para que Brian viesse a conhecer os Beatles. Diante da demanda de um cliente por um compacto com a música tradicional “My Bonnie”, gravada na Alemanha pelo cantor Tony Sheridan com os Beatles como grupo de apoio, Brian, que já tinha lido um artigo sobre a banda no Mersey Beat, procurou saber mais sobre o grupo e foi assistir a seu show no mítico Cavern Club, em novembro de 1961. Impressionado com a música, mas também com o carisma dos rapazes e sua influência sobre o público, Brian não demorou a se oferecer para empresariar a banda.

Rock de terno

A influência de Brian sobre os Beatles começou a se fazer sentir na busca de uma maior profissionalização da banda, incluindo sua apresentação visual. Não sem alguma resistência, John, Paul, George e Ringo trocaram as jaquetas de couro pelos ternos hoje tão associados à “primeira fase” dos Beatles, que vai até 1966, ano em que o grupo renunciou em definitivo à loucura dos shows e das turnês. Consciente desde então da importância da imagem, Brian conduziu à sua maneira os rapazes às engrenagens do showbizz.

Por mais paradoxal que possa parecer hoje em dia, penou para encontrar gravadora que se interessasse pelo grupo, chegando a ouvir de um funcionário de uma delas que grupos de guitarra estavam acabados. Apesar de várias gravadoras terem rejeitado os Beatles, a porta na cara mais famosa foi batida pela Decca Records, em que os Beatles gravaram, sem sucesso, uma demo hoje conhecida por colecionadores e fãs mais atentos. Essa mesma demo foi levada ao selo Parlophone, integrante da EMI, onde um produtor musical chamado George Martin identificaria o potencial da banda. Ao longo da década de 60, Martin faria pelos Beatles dentro dos estúdios o que Brian Epstein fez fora deles, produzindo dezenas de sucessos e levando o rock’n roll a transcender a condição de simples música de consumo para o público juvenil. Consolidado o sucesso dos Beatles, Brian passou a ser mais e mais requisitado como empresário, trabalhando com grupos como Gerry & the Pacemakers e Billy J. Kramer & The Peacemakers, além da cantora Cilla Black. Artistas que muitas vezes eram atrações de abertura em shows dos Beatles. Deixaria sua história registrada também em depoimento reunido no livro “A Cellarfull of Noise”.

Saindo de cena

A decisão dos Beatles em parar com os shows e procurar aperfeiçoar sua música em estúdio, a partir de meados de 1966, foi um evidente baque para Brian Epstein, tendo em vista que atingia diretamente o trabalho do qual se encarregava, como empresário, organizando as turnês. Com registro de uso de drogas já desde alguns anos, o empresário chegou a se internar em uma clínica para tentar se livrar do vício em anfetaminas e remédios. Enquanto os Beatles curtiam a onda do psicodelismo e da descoberta dos romances astrais e das coisas do Oriente, passando uma temporada na Índia com o guru Maharishi Mahesh Yogi, receberam a notícia do falecimento de seu empresário, encontrado morto em seu quarto.

O laudo oficial atestaria “morte acidental” por overdose de remédio para insônia. Encerrava-se ali um capítulo fundamental da história dos Beatles, que, fundando a Apple Records para lançar seus discos dali por diante, enfrentariam problemas como empresários de si mesmos, apressando o desgaste que levou à dissolução do grupo, em 1970. Já eram, porém, um fenômeno mundial. Em parte, graças a Brian Epstein.


DALWTON MOURA
Repórter

Um comentário:

  1. Quando vi a alguns anos atrás um documentário sobre os "besouros" ingleses de Liverpool, percebi com clareza a influência de Brian na formatação da imagem que o mundo receberia dos "4ever". Mas, o que me impressionou foi o trabalho musical do George Martin arranjador/produtor/compositor). O cara transformava "as músicas de acampamento" dos "les beat" em verdadeiras sinfonias! Êle, pra mim, é o quinto (musicalmente falando) Beatles.

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