domingo, 2 de setembro de 2007

Chico e o Tempo [Da Delicadeza]


Chico Buarque é deus. Prevê séculos distantes e rebobina o destino. Faz da vida uma película, montagem de dias perfeitos, edição das imagens mais lindas. Retira do mar os amores afogados e dá a eles outras vidas.

{ Eu descartava os dias | Em que não te vi | Como de um filme| A ação que não valeu }

Futuros Amantes. Ele faz do devir um mistério revelado. A pressa da paixão é tola diante da promessa de eternidade. Todo substantivo abstrato paira no ar e pode permanecer por milênios. Os vestígios do passado reconstroem um futuro impossível. Estranhos objetos reencontrados. Passos de uma estrada longa. Chico atravessa uma ponte ainda inexistente, sobre abismos desconhecidos. Ele chega do outro lado. Ele domina a História. Clio é sua escrava. Tudo se perpetua sob os desmandos do coração.

{ O amor não tem pressa | Ele pode esperar em silêncio | Num fundo de armário | Na posta-restante | Milênios, milênios | No ar }

Os dias não são perfeitos? Recolhamos as flores do calendário jogadas no lixo! Chico ensina a reconstruir aquilo que ruiu, ou inexistiu. É possível acordar antes do sol, correr atrás das noites perdidas, entrar sorrateiramente pela porta do destino que sempre soubemos nosso, mesmo antes que ele saiba que é nosso destino. Valsa Brasileira.

{ E pela porta de trás | Da casa vazia | Eu ingressaria | E te veria | Confusa por me ver | Chegando assim | Mil dias antes de te conhecer }

Chico é ficção científica.

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