segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Os vários jeitos de dizer

Emerson Monteiro

Há dias não escrevo, no propósito de vascular o sótão do juízo e organizar de volta o ambiente, com isso querendo esfriar as caldeiras, na temporada boa do final de ano. Quando isto ocorre, ato contínuo, vê-se disposto a produzir qualquer coisa que una consciências, intenção de quem escreve por puro prazer.
Ainda assim, nesta busca de encontrar meios de retornar à escrita, catar as imposições do pensamento, e gerar, cá fora, alguma coisa que mereça a caligrafia das palavras, ainda assim, por vezes, os gestos permanecem restritos, numa proporção inferior ao desejo, face aos caprichos ditatoriais da forma.
Na verdade, afloram temas, a exemplo dos protestos virtuais à realidade contundente, onde o superego indica alternativas no que diz respeito ao trânsito das cidades; às políticas mercadológicas, que favorecem mais as elites, no jogo eleitoral insuficiente; à destruição gradativa da Amazônia, culpa de governos sucessivos, ferida de morte neste régio presente da natureza; às limitações usuais da personalidade humana como um todo; etc.; etc.
Resultado: escrever implica, grosso modo, no risco de ficar falando sozinho, em mundo que determina chamados múltiplos e possibilidades eletrônicas. Jornais amarelam rápido. Livros dormem em tudo que é canto de sala, preguiçosos, manhosos e antigos, viciados com a situação em que se transformaram as sociedades letradas desses dias.
O rádio, sim, e não esqueceria este veículo quente, trem-bala da comunicação de massa. Nele as palavras passam, mas os conceitos permanecem. Escutar, mergulhar pelas cavernas da memória através dos canais do ouvido...
Observo, sem um planejamento prévio, que, após décadas de textos publicados, retorno aos inícios da caminhada pelas letras, no ano de 1965, época em que, ao lado de Antônio Vicelmo, redigia para a Rádio Araripe. Cabia, a mim, produzir a parte internacional de jornal das 21h, de sua responsabilidade, talvez na primeira função radiofônica do consagrado noticiarista caririense.
No passo seguinte, Armando Rafael me solicitou que escrevesse crônicas para aquela emissora cratense, motivando descobrisse o potencial da opinião como necessidade urgente da cidadania em qualquer instância.
A importância do ato de dizer esbarra, com freqüência, nos veículos de que dispõe cada comunidade. Existem núcleos que dão prioridade a outros recursos da comunicação. Muitos escolhem a oralidade pura e simples, na fala que circula os baixios da informalidade, sem reclamar papel, câmeras ou microfone. São as sociedades ditas primitivas quanto aos sistemas de propagar a história e sua conceituação, sem reclamar profundidade documental, ou gravações magnéticas.
Aceitemos, contudo, agora, apenas isto em termos de avaliação dos modos de comunicar, porquanto o rádio trabalha sob o império do tempo e requer, por isso, limite rígido de quem dele se utiliza.
Na oportunidade, quero desejar um ano de prosperidade e boas realizações a todos os que nos ouvem neste momento.

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