quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A MÍTICA SIQUEIRA CAMPOS


Se fosse assim apenas um traço de juventude a história não se moveria. Os mitos seriam os mesmo e dos céus, assim como das dobras do relevo, nenhuma nova divindade sugeriria. Não se entristeçam, velhos companheiros, seus mitos são inigualáveis. Nãomotivos, juventude amiga, para que teus mitos, distintos e próprios, também não prevaleçam. A criação dos nossos mitos cursa como é o movimento geral de todas as coisas conhecidas, desconhecidas e por conhecer.

Como a Praça Siqueira Campos. Um mito eterno gerado numa determinada era do século XX. Quando eles usavam chapéus e terno de linho branco, bigodes finos com Clark Gable ou Robert Taylor. Elas com as saias plissadas e rodadas, blusas de tecido fino, cabelos arrumados em ondas, trunfas ou repartidos ao meio. Falo de uma geração após as melindrosas, falo delas como Ava Garden, Susan Hayworth. As palmeiras e pés de benjamins haviam nascido e o Cine Cassino apresentava os cartazes da noite.

A praça era parada de crianças ao dia, trânsito no centro da cidade, mas na noite é que se realizava como mito. Um mito de adultos e jovens. As crianças não pertenciam às luzes artificiais das sombras noturnas. O mito lhes seria revelado anos após. Quando toda a homeostasia de seu corpo não fosse a mesma com a qual nascera. A praça apresentaria seus mistérios luminosos quando todas as relações de espaço, tempo e iniciativa adquirissem novos significados e impostos significantes.

quando as canções românticas reverberaram como primavera, e não mais como aquelas desventuras incompreensíveis, a praça Siqueira Campos passou a ter outra constelação de assentimentos. Antes tivera que se aprovar na Admissão ao Ginásio e no seu segundo ano, como um rito de passagem subir seu degrau de meio fio da rua como se pela primeira. Tudo tão diferente daquelas atravessadas rápidas entre a porta do cinema e a porta do veículo até a casa. Naquela noite entronizou-se no salão jamais pensado, mas de algum tempo atrás sentido.

O mito da Siqueira Campos lhe veio como tudo que é na vida, com a matéria com a qual a própria se faz. Tereza Abath. Colega da minha irmã, menina com a qual brincara e me igualara nos quantus de todas as crianças. Então por trás do que era o mesmo era uma outra coisa, tão diferente como o é o céu e a terra, o fogo e a água. O primeiro efeito do mito foi pregar meu olhar no dela e desta liga descarregar relâmpagos e trovoadas de corpo abaixo e do chão até a cabeça tonta e desorientada.

As meninas giravam e os rapazes esperavam. A eles a iniciativa de formular um discurso de convencimento e fazer com que elas parassem de girar no ângulo ancho da praça e viesse para o estreito do rodopio a dois. Como lamentei jamais ter formulado aquele discurso, mas sei que ela e o tempo perdoam os noviços dos mitos vivos. Mas não lamentei a quantidade de vezes que desviei, desnecessariamente, o percurso da camionete pela Pedro II para passar na frente das janelas, mesmo que fechadas, de Suely.

A Praça Siqueira é um mito que impõe. Não se tem vantagem ou desvantagem por tal. Apenas acontece.

4 comentários:

  1. Amigo Zé do Vale,

    Tomei a liberdade de "surrupiar" seu fabuloso texto sobre a praça Siqueira Campos, para postar lá no Blog do Crato, a fim de que mesmo o "povão" no boteco possa Lê-lo e apreciá-lo. Na esperança que o amigo, autor, não se incomode.

    Um grande abraço,

    Dihelson Mendonça

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  2. Dihelson: somos um coletivo em que nosso coemço e fim não tem limites.

    Abraços

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  3. Entrei no túnel do passado , que o Cariricult construiu. É uma brincadeira deliciosa !

    As pessoas passam , os carros viram sucata , e a praça fica !

    Parabéns pelo texto !

    A gente fica querendo mais ...

    Abraços.

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