Resgate de um símbolo
O herói da Revolta da Chibata finalmente começa a ter reconhecimento oficial depois de viver e morrer injustiçado
A democracia brasileira acaba de superar mais um marco simbólico do preconceito da historiografia oficial, numa demonstração do estágio de maturidade alcançado pelo Brasil: a Marinha liberou, 97 anos depois, documentos que permitem recuperar a memória da Revolta da Chibata e de seu líder e herói, o marinheiro João Cândido Felisberto - “o almirante negro” -, morto em 1969 sem nunca ter recebido os benefícios da anistia que lhe foi concedida pelo Congresso Nacional em 1910 e barrada pela pressão da Armada, até agora.
O uso da chibata na Marinha já era anacrônico no século XIX, mas só foi abolido com a Proclamação da República, em 1889, para logo ser restabelecido no ano seguinte. A chegada da República fora saudada pelos marinheiros com satisfação, pois esta trouxera a abolição dos castigos corporais. Logo veio a frustração, quando o governo provisório restabeleceu esse tipo de penalidade. A Marinha, aliás, abrigava o maior contingente militar desfavorável aos ideais republicanos. Houve, assim, obtusidade por parte da alta oficialidade ao se recusar a aceitar as transformações políticas e culturais que ocorriam no mundo, desde a Revolução Francesa, mostrando-se atrelada a uma visão anacrônica pouca afeita aos ventos democráticos e a conseqüente humanização da disciplina militar.
A rebelião dos marujos em 22 de dezembro de 1910 já vinha sendo gestada em surdina, ao longo dos 20 anos pós-República, mas só foi deflagrada depois que o marinheiro Marcelino Rodrigues foi punido com 250 chibatadas, diante da tripulação do encouraçado Minas Gerais. Pelo menos 2.300 marinheiros tomaram parte na sublevação, apoderando-se à força de quatro navios de guerra na baía da Guanabara e bombardeando a então capital federal, Rio de Janeiro, como advertência. A condição para o término da rebelião foi a extinção definitiva dos castigos corporais. Mesmo tendo sido anistiado pelo Parlamento em 1910, João Cândido não teve esse direito acatado pela Marinha.
Nos anos seguintes, outra suposta sublevação (que os marinheiros alegam ter sido forjada) deu o pretexto para a retaliação, e 17 líderes da revolta anterior foram presos, torturados e confinados na Ilha das Cobras, de onde só saiu vivo João Cândido. Desde então, nunca teve vida fácil, sofrendo contínua discriminação, até sua morte, em 1969. A liberação dos documentos é um fato novo. Durante todo este tempo, os pesquisadores e os filhos de João Cândido esbarraram em negativas da Marinha, que jamais aceitou a elevação dos revoltosos à condição de heróis. O próprio João Cândido nunca conseguiu ter acesso à documentação. Agora, a História começa a lhe fazer justiça e se espera que o Congresso Nacional finalmente lhe conceda a anistia - ainda que “post-mortem”. O projeto com esse objetivo continua paralisado na Câmara dos Deputados, desde 2005. Até quando?
oi amoiiir me ajuda?
ResponderExcluireu vou fazer um trabalho tipo jornal da chibarta quero fazer mais nou consegu