(publicado na revista "Catolicismo", nº de março de 2008)
Acontecimento que marcou a fundo o Brasil
Ao estabelecer-se no Brasil, no século XIX, a família real portuguesa aqui incrementou as bênçãos da Civilização Cristã européia, na qual palpitavam ainda quentes as cinzas benditas da Cristandade medieval.
Cid Alencastro
Há 200 anos, no dia 7 de março de 1808, a família real portuguesa chegava ao Rio de Janeiro, tendo à frente o então Príncipe Regente, D. João VI, para estabelecer no Brasil a sede da monarquia dos Braganças.
Referindo-se ao Rio de Janeiro, o historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva, presidente da comissão encarregada das comemorações do bi-centenário, diz: “Em 1808, uma cidadezinha no fim do mundo, de ruas estreitas e sujas, transformou-se, subitamente, na capital do Império de Portugal. [...] Não há instituição brasileira que não veja em seu passado a presença de D. João VI, que transformou a cidade extraordinariamente em 13 anos”.
Consolidação do Brasil |
Já no Rio de Janeiro, criou a Biblioteca Pública, o Jardim Botânico, o curso de agricultura, a Imprensa Oficial, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, o Curso de Cirurgia, o Banco do Brasil e tantas outras repartições que firmaram o Brasil como nação.
Mas certamente o maior benefício foi a consolidação da unidade territorial e política do Brasil, sob a égide da Religião Católica. Os historiadores hoje reconhecem que, sem a presença da dinastia dos Braganças, a unidade nacional teria se esfacelado com a formação de republiquetas várias.
Brasil devedor de D. João VI |
O testemunho do historiador Oliveira Lima vai ao ponto: “Foi moda, durante muito tempo, zombar o mais possível do bom Rei D. João VI, a quem o Brasil deve sua organização autônoma, suas melhores fundações de cultura e até seus devaneios de grandeza. [...]
“O estabelecimento de instituições monárquicas no Brasil, a partir de 1808, contribuiu –– estamos hoje certos e, aliás, alicerçados numa larga tradição histórica –– para uma mutação pacífica do estado de colônia à situação de Estado independente. [...]
“A unidade territorial e política da antiga colônia portuguesa da América do Sul é normalmente aceita como uma conseqüência do estabelecimento, por parte dos portugueses, de um governo colonial centralizado que viria a permitir uma herança de unidade”.(1)
Revisão histórica |
Contribuiu para a difamação a que se refere Oliveira Lima um seriado da TV Globo, apresentado em 2001, que caricaturizava Dom João VI como um glutão, despreparado, omisso e preguiçoso. O seriado foi um fracasso.
Sobre a personalidade de Dom João VI, assim escreveu o escritor inglês Marcus Chekek: “Era acessível ao mais humilde dos seus súditos. Foi sempre um fervoroso católico e um protetor da música. Era caridoso, profundamente leal para com os seus amigos, leal para com os aliados do seu país. [...] A afeição e o respeito que gozou entre o seu povo foram postos à prova em inúmeras ocasiões”.(2)
Os organizadores das presentes comemorações buscam “fazer uma revisão histórica do fato em si, para que ele não seja mais visto como fuga apavorada [de D. João VI] diante do ultimato de Napoleão, […] e sim como estratégia de um governante. Não mais uma caricatura, mas um retrato fiel”. O que se quer provar “é que o príncipe regente foi um rei querido dos brasileiros, um personagem notável na transformação do Brasil naquele início do século XIX”.(3)
E-mail do autor: cidalencastro@catolicismo.com.br
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