Palavra de poeta é canto, é rua e mato, é amargura, saudade e solidão. Palavra de poeta é texto, é voz declarativa, é um pouco de vida, um tanto de reviravolta, muito da volta que o mundo dar. Palavra de poeta é como uma esquina em que dois rasgos se dão nas edificações contínuas do burgo feito colmeia. Por isso palavra de poeta é denúncia, é alerta, é oração, é o mundo em palavras cantadas, por ora malditadas noutras anátemas só para que o ouvinte ouse o dicionário. Palavra de poeta é a doçura da eternidade garantida que os lábios da morena prometem. É como uma estrela que brilha em desafio da linha azul marinho da chapada do Araripe. Palavra de poeta é tanto que um só, como eu, não é capaz de traduzir.
Agora pelo som do comentário do Marco Leonel a um canto do Carlos Rafael, (e pelo comentário a pergunta: onde cabe a poesia?), no massa não tão assim do blog, pela poética que corre na tela de alguns leitores, desta escolha preguiçosa do pragmatismo instrumental que abre o conteúdo de um continente que amanhã servirá de criadouro para o mosquito da dengue. Por isso e por nós todos sem exceção segue um poesia de Catulo da Paixão Cearense que foi letra da canção do violonista João Pernambuco e intitulada em outra letra como Caboca de Caxangá. Aliás canção que gerou uma das primeiras querelas de direito autoral no país e envolveu os dois. Vamos todos ao local onde cabe a poesia:
Poeta do Sertão
João Pernambuco
Catulo da Paixão Cearense
Intérprete – Paraguassú.
Estilo – Toada
Gravadora Continental - 1943
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Se choro o pinho,
em desafio gemedô,
não há poeta, como os fio do sertão,
sem sê dotô.
Os oios quente
da cabôca faz a gente
sê poeta de repente,
que a poesia vem do amô.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
O Puritamo,
Pró da famo,
Chico Gamo,
João Rangé.
O Catolé
O Canindé,
O Riachão,
quando eles dança no Baião,
só tem na boca,
esse nome de cabôca,
que escangaia o coração.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Dotô frormado,
homi letrado,
lá das corte
se quizé brincá comigo,
muito então se tem que vê,
os livro da inteligença e da sabença,
mas porém a mata virge
tem poesia como quê.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Eu ostru dia vi Carol
uma roceira
lá prás banda da Ipueira,
temperando igarapé,
desde este dia senti n`alma a poesia,
temperei minha viola,
cantei mais que um caboré.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Eu sou roceiro,
o meu nome é João Bueiro,
vô fazê trinta janeiro,
amenhã se Deus quizé,
mas deus me fez um cantadô afamanado
prá morrê crucificado
nos coração das muié
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Não há poeta, não há,
como os fio do Ceará.
Não há poeta não há
ResponderExcluirComo os fios do ceará
"e o poeta não esquece,
esquecer é o fim do verso,
é não ter vivido."
Não esquecerá...
Pois é José, ainda tem quem acredite que a poesia é desnecessária. Já dizia Ezra Pound, a nação que não tem um grande poeta não tem nada.
ResponderExcluirA poesia desnecessária é pra ser ignorada ...
ResponderExcluirAlguns ficariam até sem a sobremesa ,
se todos a desejassem !