Por Carlos Rafael Dias
Na década de 1970, os Festivais Regionais da Canção, realizados na cidade do Crato, marcaram época e por isso a população tem cobrado insistentemente o seu retorno.
Não se trata de mero saudosismo, mas, notadamente, de um consenso geral da importância que se tem desse tipo de evento como um estratégico instrumento para o desenvolvimento da cultura regional.
Nesses festivais, despontou toda uma geração de músicos e compositores que ainda hoje é referência maior da produção artística e musical caririense, como Abdoral e Pachelly Jamacaru, Cleivan Paiva, Luiz Carlos Salatiel, José Flávio Vieira, Luís Fidélis, Stênio Diniz, Rosemberg Cariry, Jefferson Júnior, José Nilton de Figueiredo, Stênio Diniz, Geraldo Urano e tantos e muitos outros.
Por força de diversas frentes de pressões pela volta dos festivais, o governo do Crato finalmente cedeu ao apelo, e a promove sob uma fórmula que ainda não está muito nítida para a opinião pública em geral.
Sou sabedor, no entanto, de que através de consultas a alguns artistas, muito deles integrantes da geração dos festivais, foi elaborada uma proposta de retorno do festival a partir de uma nova roupagem, considerando as peculiaridades da atual conjuntura sócio-cultural da região e se adequando às novas possibilidades de incentivar e divulgar os novos talentos musicais.
Assim, salvo melhor juízo, o projeto de realização do Festival Cariri da Canção levou em consideração a memória dos antigos festivais realizados em Crato, desde os Festivais Regionais da Canção, acontecidos na década de 1970, até o CHAMA (Chapada Musical do Araripe), que marcou, igualmente, a década de 1990. Foram experiências vitoriosas que precisavam ser resgatadas enquanto modelos de eventos que deram significativo impulso à produção musical da região. Mas, por outro lado, o novo festival precisa trazer de fato algo novo e não somente repetir velhas fórmulas que, a despeito de terem sido exitosas, não mais atendem aos novos desafios.
Neste sentido, o Festival Cariri da Canção, terá, a curto prazo, o intento de desempenhar um papel efetivo na cena musical independente da região Sul do Estado do Ceará; projetando-a, paulatinamente, para toda a região Nordeste e, quiçá, para todo o país.
Do contrário, o festival será apenas um espectro, algo como uma tentativa de ressuscitar uma múmia por métodos tecnológicos modernos, porém ineficientes para empreitadas como esta.
Outro grande desafio será o de garantir a continuidade do evento, inserindo-o no calendário permanente de atrações turísticas e culturais de região do Cariri. Para tanto, além da participação do poder público, deve contemplar as iniciativas independentes provindas de grupos artísticos alternativos e de artistas isolados, visando o fortalecimento e a consolidação do Festival como um espaço propiciador de surgimento e divulgação de novos valores musicais.
Obs.: A foto que ilustra a matéria, de autor desconhecido, registra a apresentação de George Lucetti no Festival Regional da Canção, acontecido na década de 1970, em Crato; acompanhado por Osvaldo Rafael (Tobinha), na bateria, e Marcos Lucetti, na percussão.
Salutar matéria, vamos carregar as baterias com a enegia do passado, para ascender a luz do futuro musical cariense.
ResponderExcluirBelíssimo texto. Digno de um grande artista e grande historiador. Parabéns Dias. E votos de que o novo Festival venha pra ficar. A Cidade da Cultura tem que fazer valer esse título.
ResponderExcluirRafael , que notícia boa !
ResponderExcluirValeu poeta!
ResponderExcluirAcho o seu ponto de vista o mais coerente de todos os que li e ouvi sobre esse evento. Muitas pessoas acreditam que devem tomar iniciativas e que essas são blindadas à críticas. Criou-se em nosso cenário, uma verdadeira aversão à crítica. Acho realmente que a iniciativa é boa, no entanto é impossível não considerar o que você apresentou no artigo. Aquela postura setentista dos festivais foi exitosa naquele período, agora a história é outra. O tempo exige uma rapidez midiática e metodológica que eu não vejo ainda solucionado em nossa região. A partir mesmo da abertura das inscrições e encerramento delas. Pouca gente tomou conhecimento, e justamente devido ao fato das gravações serem inéditas, um prazo maior seria o correto.
Grande texto poeta!
Valeu.
É isso Lub, agora, sinto que muitas vezes o comodismo ainda é forte na nossa região do cariri. Estou a siscentos quilometros do cariri e muitas vezes quando entro em contato com algum caririense e pergunto pelas novidades, a resposta é contudente, "aqui não acontence nada". Aí eu pergunto, cara hoje tem show de fulaninho, você não vai, "iiiiii cara num tava nem sabendo", aí é F..., né.
ResponderExcluirAmigos, grato pelos comentários.
ResponderExcluirGostei, inclusive, do que disse Calazans por último: tem antena mais antenada há 600 km do que essas antenas com bombril que não captam nada, apesar de estarem embaixo de toda onda.
Vamos de volta aos festivais, com a lembraça do passado e o olho no presente; mas... com o pé no futuro.
"Estou montado no futuro indicativo
Já não temo mais perigo
Nada tenho a declarar.
Pelo de osso costurado a parafuso
Papagaio do Futuro..."
(Alceu Valença, 1974)
Nos veremos lá!