FESTIVAL CARIRI DA CANÇÃO
Eu não poderia deixar passar em branco, sem fazer nenhuma espécie de comentário sobre esse evento, mesmo as datas das apresentações não tendo favorecido a minha presença integral, devido ao trabalho. De fato não posso falar das músicas, dos arranjos e das interpretações da mostra competitiva, mas tive acesso aos shows e posso opinar sobre a estrutura como um todo.
Na abertura do evento eu pude perceber logo de imediato que a iniciativa da Prefeitura do Crato em retomar essa movimentação cultural foi vitoriosa e de muito bom grado. A produção acertou em cheio, pois o público foi muito bom e a estrutura como um todo foi satisfatória em muitos pontos.. Iniciativa como essa, de forma solitária, não redime toda a lacuna que existe na produção cultural caririense e o cuidado que o poder público deve ter com esse segmento, mas aponta para uma mudança de atitude muito louvável, deixando no ar uma esperança de que o espaço para futuras parcerias está aberto, ou não?!
Não cabe aqui discutir minhas reservas quanto ao modelo do evento, que particularmente creio já esgotado para os nossos tempos, mas nada me impede de aceitar a proposta do jeito que ela foi colocada em prática. Toda e qualquer tentativa de movimento, de dinamismo, de busca e de ação deve ser recebida a partir de uma concepção positiva. E essa, sem dúvida nenhuma, foi realmente uma iniciativa que caiu como uma luva para acalorar ainda mais a discussão regional sobre os aparelhos culturais, o papel do poder público, a organização dos artistas, os espaços, as intenções da produção cultural caririense, a inserção e valorização da nossa cultura em grandes eventos, como é o caso da ExpoCrato, por exemplo.
Do ponto de vista da aceitação do público, o Festival Cariri da Canção provou que existe interesse sim da população em prestigiar a nossa cultura. Contradizendo os especuladores de plantão e claro, os profissionais da área, preocupados em fazer dinheiro com a cultura de massas, o que já é outra história, que deverá ser discutida em outra instância e sem preconceitos ou ressentimentos.
Como é bom se deparar com uma platéia daquelas que eu vi. Gente de todas as classes, gente culta e educada, gente espalhada por todo o espaço da antiga estação do Crato, que prefiro não chamar de Centro Cultural, pois para isso falta muito. Aquela é a platéia que qualquer artista de vergonha gostaria de ter sempre. Não é de hoje que existe público para isso e esse mesmo público qualificado. O problema é a constância das produções, que são esporádicas. Não falo aqui de música para barzinho, acompanhada de bebida e futilidade. Falo de projetos.
O palco do Festival Cariri da Canção era bom, para uma primeira retomada, para a seqüência pontual do evento com certeza ele será melhorado. O som estava bem equalizado e se mostrou capaz de suportar a envergadura do evento. Já a iluminação era ridícula, muito abaixo do evento e das intenções culturais em questão. Não sei exatamente o porquê, mas a escolha das datas do evento me pareceu completamente equivocada, o que provocou a evasão de um público adicional muito significativo.
Quanto aos shows apresentados, de artistas convidados, achei muito providencial a seleção de nomes, mas com algumas reservas quanto à ausência de outros artistas importantes da nova produção artística da região. Faltaram as bandas de rock, reggae, hip hop e blues. Ficou faltando prestigiar quem já está na cena atual há um bom tempo, já com estrada e serviço prestado à expressão artística caririense, fora do eixo um banquinho, um violão e toda a reverência à MPB ou à chamada música de raiz. O panorama musical cresceu e está aí a apontar para uma direção desafiadora ao que já está estabelecido como consagrado. Basta dar uma olhada na intensa programação do Centro Cultural BNB, são inúmeras bandas e artistas individuais caririenses, já com representação no cenário musical nordestino e brasileiro.
Sei que não é fácil atender a todas as necessidades e isso daqui não é uma crítica gratuita, é apenas um alerta para outras produções futuras. Assistir pequenos shows foi uma experiência nova, mas não estimulante. Gostaria muito mais de todos aqueles nomes que se apresentaram, da mesma forma que gostaria muito mais dos que não foram lembrados de forma imperdoável. O Cariri não é só passado, que isso fique bem claro. No entanto, face ao abandono que havia tomado conta das produções maiores, o Festival Cariri da Canção torna-se já um oásis em meio a tanta porcaria produzida para fazer dinheiro imediato. O testemunho é geral sobre a qualidade das músicas que participaram da mostra competitiva. Da mesma forma que os comentários favoráveis ao evento são provas cabíveis de uma iniciativa bem sucedida.
Marcos Leonel
Eu não poderia deixar passar em branco, sem fazer nenhuma espécie de comentário sobre esse evento, mesmo as datas das apresentações não tendo favorecido a minha presença integral, devido ao trabalho. De fato não posso falar das músicas, dos arranjos e das interpretações da mostra competitiva, mas tive acesso aos shows e posso opinar sobre a estrutura como um todo.
Na abertura do evento eu pude perceber logo de imediato que a iniciativa da Prefeitura do Crato em retomar essa movimentação cultural foi vitoriosa e de muito bom grado. A produção acertou em cheio, pois o público foi muito bom e a estrutura como um todo foi satisfatória em muitos pontos.. Iniciativa como essa, de forma solitária, não redime toda a lacuna que existe na produção cultural caririense e o cuidado que o poder público deve ter com esse segmento, mas aponta para uma mudança de atitude muito louvável, deixando no ar uma esperança de que o espaço para futuras parcerias está aberto, ou não?!
Não cabe aqui discutir minhas reservas quanto ao modelo do evento, que particularmente creio já esgotado para os nossos tempos, mas nada me impede de aceitar a proposta do jeito que ela foi colocada em prática. Toda e qualquer tentativa de movimento, de dinamismo, de busca e de ação deve ser recebida a partir de uma concepção positiva. E essa, sem dúvida nenhuma, foi realmente uma iniciativa que caiu como uma luva para acalorar ainda mais a discussão regional sobre os aparelhos culturais, o papel do poder público, a organização dos artistas, os espaços, as intenções da produção cultural caririense, a inserção e valorização da nossa cultura em grandes eventos, como é o caso da ExpoCrato, por exemplo.
Do ponto de vista da aceitação do público, o Festival Cariri da Canção provou que existe interesse sim da população em prestigiar a nossa cultura. Contradizendo os especuladores de plantão e claro, os profissionais da área, preocupados em fazer dinheiro com a cultura de massas, o que já é outra história, que deverá ser discutida em outra instância e sem preconceitos ou ressentimentos.
Como é bom se deparar com uma platéia daquelas que eu vi. Gente de todas as classes, gente culta e educada, gente espalhada por todo o espaço da antiga estação do Crato, que prefiro não chamar de Centro Cultural, pois para isso falta muito. Aquela é a platéia que qualquer artista de vergonha gostaria de ter sempre. Não é de hoje que existe público para isso e esse mesmo público qualificado. O problema é a constância das produções, que são esporádicas. Não falo aqui de música para barzinho, acompanhada de bebida e futilidade. Falo de projetos.
O palco do Festival Cariri da Canção era bom, para uma primeira retomada, para a seqüência pontual do evento com certeza ele será melhorado. O som estava bem equalizado e se mostrou capaz de suportar a envergadura do evento. Já a iluminação era ridícula, muito abaixo do evento e das intenções culturais em questão. Não sei exatamente o porquê, mas a escolha das datas do evento me pareceu completamente equivocada, o que provocou a evasão de um público adicional muito significativo.
Quanto aos shows apresentados, de artistas convidados, achei muito providencial a seleção de nomes, mas com algumas reservas quanto à ausência de outros artistas importantes da nova produção artística da região. Faltaram as bandas de rock, reggae, hip hop e blues. Ficou faltando prestigiar quem já está na cena atual há um bom tempo, já com estrada e serviço prestado à expressão artística caririense, fora do eixo um banquinho, um violão e toda a reverência à MPB ou à chamada música de raiz. O panorama musical cresceu e está aí a apontar para uma direção desafiadora ao que já está estabelecido como consagrado. Basta dar uma olhada na intensa programação do Centro Cultural BNB, são inúmeras bandas e artistas individuais caririenses, já com representação no cenário musical nordestino e brasileiro.
Sei que não é fácil atender a todas as necessidades e isso daqui não é uma crítica gratuita, é apenas um alerta para outras produções futuras. Assistir pequenos shows foi uma experiência nova, mas não estimulante. Gostaria muito mais de todos aqueles nomes que se apresentaram, da mesma forma que gostaria muito mais dos que não foram lembrados de forma imperdoável. O Cariri não é só passado, que isso fique bem claro. No entanto, face ao abandono que havia tomado conta das produções maiores, o Festival Cariri da Canção torna-se já um oásis em meio a tanta porcaria produzida para fazer dinheiro imediato. O testemunho é geral sobre a qualidade das músicas que participaram da mostra competitiva. Da mesma forma que os comentários favoráveis ao evento são provas cabíveis de uma iniciativa bem sucedida.
Marcos Leonel
Parabéns, Marcos.
ResponderExcluirAnálise lúcida, profunda e sensata.
Foi ótimo, mas podemos melhorar: esse parece ser o substrato do texto.
É isso mesmo, tenho lido e escutado algumas coisas sobre o Festival que ou superdimensionaram o evento ou o minimizaram ao despreso. Nem vamos ser patéticos e nem miseráveis.
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