OS SONHOS SONOROS DE CLEIVAN PAIVA
Há muito tempo que Cleivan Paiva é um dos melhores guitarristas do cenário musical brasileiro. Falta agora o reconhecimento da sua grandeza como compositor. “Sonhos do Brasil” é um cd feito para tirar qualquer dúvida a respeito dessa qualidade genial desse artista piauiense de Simões, mas caririense de coração e adoção.
Muitos afirmam que a música de Cleivan é sofisticada demais, que não é nada popular e que seus discos são feitos para um público específico. Não acredito de forma nenhuma que o verdadeiro artista é aquele que o povão entende ou como querem alguns, que fazer o fácil não é fácil. O verdadeiro artista é aquele que é autêntico em sua expressão, não importa que tipo de arte ele faz ou que estética ele apresenta. Cleivan Paiva é desses artistas que têm a capacidade de suscitar reações diversas, pois a sua arte é viva e autêntica. Quem quiser que o entenda.
Conheci Cleivan nas apresentações do grupo Ases do Ritmo, ao lado de Hugo Linardi, outro gênio, tocando uma guitarra muito esperta, já com uma linguagem jazzística, em pleno domínio da MPB e do rock, durante o período do final dos anos 70 e início dos anos 80. Confesso que sinto saudades daqueles solos memoráveis, com uma timbragem de guitarra mais suja, fora do padrão clean do jazz. Já disse a ele que um dos meus sonhos musicais é produzir um disco dele, instrumental e fusion, usando efeitos como wha wha e overdrive.
Depois eu encontrei Cleivan em São Paulo, em plena forma musical, morando vizinho a Isânio Santos, outro gênio. Fiz inúmeras visitas a ele, junto com Bá Freire, amigo e parceiro musical. Nessas oportunidades eu tive a graça de testemunhar memoráveis improvisos desse mago da guitarra, irrevogavelmente um dos meus ídolos. Sempre que tinha oportunidade eu freqüentava as casas que ele trabalhava como músico da noite. Assisti sempre improvisos geniais nessas oportunidades furtivas.
Mas é em disco que se é possível dimensionar a importância desse músico e compositor. “Sonhos do Brasil” é um apanhado de faixas genuinamente brasileiras, de fato. Nelas Cleivan demonstra toda a sua vertente nordestina, brasileira e universal. São músicas instrumentais e cantadas, divididas ao longo de 17 faixas ao todo. Posso afirmar que esse é um dos principais lançamentos da música livre brasileira dos últimos tempos. Para aqueles que esperavam um disco só instrumental, como eu, fica aqui a compreensão de existir uma necessidade maior de mostrar todas as facetas de um artista que não tem tanta freqüência de gravações.
A faixa que abre o disco, “Dose para leão” é uma síntese da formação musical de Cleivan Paiva, uma composição de harmonia complexa, cheia de acidentes e inversões, com sotaques do cool jazz, do bebop, da bossa-nova, do samba, do chorinho e da música nordestina de raiz. O timbre da guitarra, nessa música, que muitas vezes lembra uma cítara, abre o leque universal desse guitarrista fenomenal. Cleivan, ao longo do disco, ainda usa violões de nylon, às vezes simultaneamente com a guitarra, formando uma cama harmônica extremamente profunda, cheia de aberturas, contra-pontos, acordes de passagens e células de acordes, próprias apenas dos grandes nomes, como Thelhonius Monk e Hermeto Pascoal.
“Pras ondas voar” é uma verdadeira anatomia prática da música popular brasileira. Enquanto você está escutando aquele desfile de acordes dissonidos, você fica imaginando quem é capaz de improvisar em cima daquela harmonia cheia de esquinas e quebradas. Mas ele faz um solo fora de série no final dessa música, demonstrando uma visão toda particular do que é o improviso. Uma verdadeira aula de harmonia e improviso. Que transporta o ouvindo para uma dimensão toda especial da sensibilidade. São cores sentimentais e existenciais de um músico além do normal.
“Tempo certo” e “Para cantar o amor distante” são os destaques das músicas cantadas do repertório. A primeira pelo improviso preciso e primoroso de guitarra. Nessa faixa a banda toca um arranjo complexo, cheio de convenções típicas da música de Cleivan, com destaque para o baixo de João Neto. A segunda pela revisão harmônica surpreendente. Cleivan já havia gravado essa música em seu primeiro disco. Agora a roupagem harmônica é outra, muito mais elaborada do que já era. Além dessas faixas, existem várias outras merecedoras de destaque.
“Sonhos brasileiros” é um disco pessoal, muitas vezes intimista, apenas violão e guitarra. É um disco que apresenta uma visão particular da música de um compositor antenado com o seu tempo. O resultado geral é excelente. Ficando a nota negativa para o processamento eletrônico da bateria de Demontier Delamone. A mixagem geral apresenta um reverb que poderia muito bem ter sido em dose menor. Mas isso não tira em nada o brilho desse trabalho mais do que providencial. Cleivan Paiva é o nome da guitarra brasileira por excelência.
A banda
Cleivan Paiva – voz, violão, guitarra, teclados, surdo, triângulo, pote e baixo
Rainério Ramalho – voz
Demontier Delamoni – bateria e pote
João Neto – baixo
Cícero Percussão – triângulo e caxixi
Beto Lemos – pandeiro e surdo
Roosevelt – efeitos e caxixi
Érica Paiva, Olga Paiva e Bruno Paiva - vocal
Há muito tempo que Cleivan Paiva é um dos melhores guitarristas do cenário musical brasileiro. Falta agora o reconhecimento da sua grandeza como compositor. “Sonhos do Brasil” é um cd feito para tirar qualquer dúvida a respeito dessa qualidade genial desse artista piauiense de Simões, mas caririense de coração e adoção.
Muitos afirmam que a música de Cleivan é sofisticada demais, que não é nada popular e que seus discos são feitos para um público específico. Não acredito de forma nenhuma que o verdadeiro artista é aquele que o povão entende ou como querem alguns, que fazer o fácil não é fácil. O verdadeiro artista é aquele que é autêntico em sua expressão, não importa que tipo de arte ele faz ou que estética ele apresenta. Cleivan Paiva é desses artistas que têm a capacidade de suscitar reações diversas, pois a sua arte é viva e autêntica. Quem quiser que o entenda.
Conheci Cleivan nas apresentações do grupo Ases do Ritmo, ao lado de Hugo Linardi, outro gênio, tocando uma guitarra muito esperta, já com uma linguagem jazzística, em pleno domínio da MPB e do rock, durante o período do final dos anos 70 e início dos anos 80. Confesso que sinto saudades daqueles solos memoráveis, com uma timbragem de guitarra mais suja, fora do padrão clean do jazz. Já disse a ele que um dos meus sonhos musicais é produzir um disco dele, instrumental e fusion, usando efeitos como wha wha e overdrive.
Depois eu encontrei Cleivan em São Paulo, em plena forma musical, morando vizinho a Isânio Santos, outro gênio. Fiz inúmeras visitas a ele, junto com Bá Freire, amigo e parceiro musical. Nessas oportunidades eu tive a graça de testemunhar memoráveis improvisos desse mago da guitarra, irrevogavelmente um dos meus ídolos. Sempre que tinha oportunidade eu freqüentava as casas que ele trabalhava como músico da noite. Assisti sempre improvisos geniais nessas oportunidades furtivas.
Mas é em disco que se é possível dimensionar a importância desse músico e compositor. “Sonhos do Brasil” é um apanhado de faixas genuinamente brasileiras, de fato. Nelas Cleivan demonstra toda a sua vertente nordestina, brasileira e universal. São músicas instrumentais e cantadas, divididas ao longo de 17 faixas ao todo. Posso afirmar que esse é um dos principais lançamentos da música livre brasileira dos últimos tempos. Para aqueles que esperavam um disco só instrumental, como eu, fica aqui a compreensão de existir uma necessidade maior de mostrar todas as facetas de um artista que não tem tanta freqüência de gravações.
A faixa que abre o disco, “Dose para leão” é uma síntese da formação musical de Cleivan Paiva, uma composição de harmonia complexa, cheia de acidentes e inversões, com sotaques do cool jazz, do bebop, da bossa-nova, do samba, do chorinho e da música nordestina de raiz. O timbre da guitarra, nessa música, que muitas vezes lembra uma cítara, abre o leque universal desse guitarrista fenomenal. Cleivan, ao longo do disco, ainda usa violões de nylon, às vezes simultaneamente com a guitarra, formando uma cama harmônica extremamente profunda, cheia de aberturas, contra-pontos, acordes de passagens e células de acordes, próprias apenas dos grandes nomes, como Thelhonius Monk e Hermeto Pascoal.
“Pras ondas voar” é uma verdadeira anatomia prática da música popular brasileira. Enquanto você está escutando aquele desfile de acordes dissonidos, você fica imaginando quem é capaz de improvisar em cima daquela harmonia cheia de esquinas e quebradas. Mas ele faz um solo fora de série no final dessa música, demonstrando uma visão toda particular do que é o improviso. Uma verdadeira aula de harmonia e improviso. Que transporta o ouvindo para uma dimensão toda especial da sensibilidade. São cores sentimentais e existenciais de um músico além do normal.
“Tempo certo” e “Para cantar o amor distante” são os destaques das músicas cantadas do repertório. A primeira pelo improviso preciso e primoroso de guitarra. Nessa faixa a banda toca um arranjo complexo, cheio de convenções típicas da música de Cleivan, com destaque para o baixo de João Neto. A segunda pela revisão harmônica surpreendente. Cleivan já havia gravado essa música em seu primeiro disco. Agora a roupagem harmônica é outra, muito mais elaborada do que já era. Além dessas faixas, existem várias outras merecedoras de destaque.
“Sonhos brasileiros” é um disco pessoal, muitas vezes intimista, apenas violão e guitarra. É um disco que apresenta uma visão particular da música de um compositor antenado com o seu tempo. O resultado geral é excelente. Ficando a nota negativa para o processamento eletrônico da bateria de Demontier Delamone. A mixagem geral apresenta um reverb que poderia muito bem ter sido em dose menor. Mas isso não tira em nada o brilho desse trabalho mais do que providencial. Cleivan Paiva é o nome da guitarra brasileira por excelência.
A banda
Cleivan Paiva – voz, violão, guitarra, teclados, surdo, triângulo, pote e baixo
Rainério Ramalho – voz
Demontier Delamoni – bateria e pote
João Neto – baixo
Cícero Percussão – triângulo e caxixi
Beto Lemos – pandeiro e surdo
Roosevelt – efeitos e caxixi
Érica Paiva, Olga Paiva e Bruno Paiva - vocal
Marcos Leonel
Grande cleivan
ResponderExcluirgrande marcos
grande disco
grande crítica
Lindíssimo esse trabalho do Cleivan !
ResponderExcluirCleivan merece todo o nosso zelo, ele é um artista fantástico.
ResponderExcluirAbraços