José Bezerra, pacificador
por José Jezer de Oliveira (*)
José Bezerra de Menezes foi figura emblemática na vida social, política e empresarial da cidade de Juazeiro do Norte, encravada no coração do Cariri. À exceção do Padre Cícero, ninguém ali o excedia em respeito, prestígio e admiração conquistados perante os seus concidadãos, mercê das virtudes morais de que era titular e de qualidades outras que o distinguiam como cidadão. Dotado de extraordinário espírito de solidariedade humana, era sempre solicitado a intervir em conflitos dada a maneira serena com que administrava os ânimos das pessoas em desavença. E as suas ponderações e conselhos eram comumente acatados.
No Juazeiro, só não foi o que não quis ser ou o que, por impedimento legal, não pôde ser: Juiz, por exemplo. Mesmo assim, muitas de suas atitudes assemelhavam-se, de fato, às de um “juiz da paz”, tanto é que, carinhosamente, lhe atribuíram o titulo de “Pacificador”.
Pecuarista, agricultor, empresário, banqueiro, foi, também, prefeito, vereador e delegado de polícia, bem sucedido em todas essas atividades, mercê da invejável visão prática que tinha das coisas, o que, sem dúvida, deu-lhe o necessário suporte psicológico para o exercício de cada uma delas da maneira mais justa e equilibrada possível. Com respeitável paciência que lhe era peculiar, soube encaminhar os filhos nos negócios, preparando-os, ao mesmo tempo, para ingresso na política. Tanto em uma quanto em outra atividade se houveram com extraordinário êxito.
Na política, Leandro, o mais velho dos filhos homens, foi o primeiro a disputar cargo eletivo. Foi vereador. Morreu cedo, antes de alçar vôos mais altos. Em seguida, os gêmeos Adauto e Humberto, oficiais do Exército, seguidos por Orlando e Alacoque, estendendo-se à geração dos netos, um deles atualmente deputado federal, José Arnon. Todos conquistaram os mais expressivos postos na vida política: Orlando, prefeito, deputado estadual, deputado federal; Humberto: prefeito, deputado federal, Secretário de Estado, vice-governador; Adauto: deputado estadual, vice-governador, governador, deputado federal; Alacoque: Senadora da República.
Em José Bezerra de Menezes a prudência se sobressaía como um dos traços mais marcantes da sua personalidade. Um só episódio é o bastante para evidenciar essa qualidade nele reconhecida pela gente do Juazeiro.
Era ele delegado quando chegou a informação de que um bêbado estava armando a maior confusão em um bar da cidade. Chamou dois soldados da polícia e ordenou-lhes que conduzissem o homem à sua presença, recomendando-lhes, porém:
– Vão lá e tragam o homem. Mas tragam com jeito.
– E se ele não quiser vir? – indagou um dos policiais.
– Com mais jeito ainda – respondeu José Bezerra.
Em seguida, virando-se para um amigo que estava ao seu lado:
– Se eu dissesse: de qualquer jeito, eles iam trazer o homem morto.
Em uma de suas idas ao Crato, a negócio ou em visita a parentes, encontrou-se com Moacir Mota, gerente da agência do Banco do Brasil, a única da região do Cariri, e que o abordou com a notícia de que já existiam recursos disponíveis para empréstimo na Carteira Agrícola do banco.
– Seu Moacir, isto é um namoro! – observou José Bezerra, acrescentando:
– Na hora de assinar o contrato é o casamento. No momento da quitação do empréstimo é o parto. Sou eu que estarei sentindo as dores e não o gerente do banco! Muito obrigado por sua informação.
(*) José Jezer de Oliveira é cratense. Jornalista, ex-presidente da Casa do Ceará, em Brasília e membro do Instituto Cultural do Cariri onde ocupa a Cadeira Ministro Colombo de Sousa.
Este artigo de José Jezer de Oliveira vem confirmar um depoimento dado pelo saudoso empresário Antônio Correa Celestino – fundador da firma "Aliança de Ouro S/A" – publicado no livro “José Bezerra de Menezes– o pacificador”, (Pág.121), escrito pela senadora Alacoque Bezerra. A ver:
ResponderExcluir“Desde 1938, quando me fixei em Juazeiro, fiz boa amizade com o Zé Bezerra, como o tratavam seus íntimos. Mais tarde, tivemos muitos anos de boa convivência, no Banco do Juazeiro S/A, hoje BICBANCO, que seus filhos, coronéis Humberto e Adauto, levaram à culminância de um dos grandes bancos do País.
Naquele estabelecimento de crédito ele ocupou o cargo de Diretor Vice-Presidente e/ou Secretário.
Neste pequeno relato, quero ressaltar uma das suas grandes qualidades: onde quer que surgisse uma dissensão, ali estava ele com a sua mansidão para apaziguar. Ouve uma parte e outra parte, encontra um denominador comum e propõe (a reconcliação) sempre com êxito.
Este é o Zé Bezerra que eu conheci”.
Antônio Correa Celestino
Empresário