quarta-feira, 25 de junho de 2008

Matéria do jornal "O Povo" - 25-03-2008

Bárbara de Alencar

Túmulo de heroína sem visitação

Faltam visitantes ao túmulo de Bárbara de Alencar. Ele fica no distrito de Itaguá, no município de Campos Sales, onde estão os restos da avó do escritor cearense José de Alencar. O espaço é bem conservado e cuidado. Três pessoas se revezam, tomando conta do túmulo. Segundo a população, pesquisadores, historiadores e estudantes podiam freqüentar mais o local, que fica na Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
De acordo com o professor e historiador Fábio Alencar, que reside em Itaguá, "a heroína, infelizmente, está esquecida". A Prefeitura de Campos Sales tenta revitalizar a história de Bárbara de Alencar, com um projeto que pede o tombamento do seu túmulo. O prefeito da cidade, Paulo Ney Martins (PSB), disse que enviou ofício ao ministro da Cultura, Gilberto Gil, solicitando o tombamento. O ministro respondeu ao prefeito. Paulo Ney, no entanto, afirmou que não podia ontem dar mais detalhes sobre o assunto ao O POVO, porque estava fora da cidade.
Em situação ruim também está a Fazenda Alecrim, no município de Pio IX, no Piauí, onde a heroína morou. O lugar fica a 18 quilômetros do distrito de Itaguá, já na divisa dos estados do Ceará com Piauí. Segundo moradores, a estrutura física da casa está comprometida. Em um dos quartos, ainda estão pertences de Bárbara de Alencar. Ela foi uma das primeiras mulheres que se envolveram com política. Nascida em Pernambuco, em 1765, viveu a maior parte de sua vida no Crato, no Ceará. Bárbara foi presa em Fortaleza, em 1817, por participar de movimentos a favor da independência do Brasil. Também tentava livrar um irmão e dois filhos da prisão. Ficou no cárcere em Recife (PE) e Salvador (BA) e foi solta em 1821, por causa da Anistia Geral. (colaborou Amaury Alencar)

Um comentário:

  1. EDITORIAL DO JORNAL "O POVO" DE 26-06-2008:
    "Uma matéria jornalística publicada, ontem, pelo O POVO, sobre o abandono do túmulo e de uma antiga residência da heroína cearense Bárbara de Alencar coloca na ordem do dia a necessidade de uma política pública mais consistente de defesa do patrimônio histórico do Ceará. O assunto interessa não apenas do ponto de vista da preservação do passado, mas, sobretudo, no que isso tem de importância para o presente e o futuro da sociedade cearense.

    Nenhuma sociedade que tem noção do significado de seu patrimônio histórico como elemento de coesão interna e de inserção na realidade cultural e econômica contemporânea tem uma posição de negligência em relação a esse tipo de preocupação. Em primeiro lugar, porque o fortalecimento da identidade histórica e cultural é um componente fundamental para a formação de uma consciência de cidadania. Para alguém ser cidadão, isto é, ser agente efetivo no processo político, social e cultural do meio em que vive, precisa ter noção de sua própria história, identificar-se com ela e defender seus elementos positivos, ou, por outro lado, criticar seus desacertos e desvios para construir o futuro em bases consistentes.

    De outro lado, há de se considerar igualmente a forma de utilizar esse passado, de forma pragmática, para fazer dele também um meio de garantir melhores condições de vida para a sociedade, no presente. E isso pode ser feito graças à nova percepção do lugar que ocupa os bens simbólicos na economia contemporânea, seja através da indústria cultural, seja especificamente por meio da atividade turística.

    O papel histórico desempenhado pelos participantes das duas revoluções libertárias do século XIX (1817 e 1824) ainda precisa ser mais bem delimitado, assim como as propostas contidas em ambos os projetos, para se ter uma visualização mais nítida da sua contribuição ao processo histórico e político do Brasil - e do Nordeste e o Ceará, em particular. Requer-se uma melhor compreensão de seus desdobramentos ao longo do tempo, e o que pode ainda ser aproveitado dessa contribuição.

    Do ponto de vista pragmático, entender que na era da globalização o local arvora-se como diferencial atrativo e valorizado. Bárbara de Alencar é uma mulher revolucionária numa sociedade machista e patriarcal. É preciso explorar mais essa dimensão.

    Antes de tudo, impõe-se a necessidade de recuperar os locais referencias de sua passagem entre nós. Desde a Fazenda Alecrim - prestes a desaparecer - até os lugares onde esteve detida, e o seu túmulo abandonado. E incluí-los no roteiro do turismo histórico e cultural. É preciso ousar mais: o projeto deveria abranger todos os sítios e personagens da Revolução de 1817 e da Revolução de 1824, no Ceará, de modo a colocá-los numa posição de relevância como centro referencial dos estudos e pesquisas de nossa formação social e política".

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