sábado, 5 de julho de 2008

Dia D

Torquato Neto

Desde que saí de casa
trouxe a viagem da volta
gravada na minha mão
enterrada no umbigo
dentro e fora assim comigo
minha própria condução

Todo dia é dia dela
pode não ser pode ser
abro a porta e a janela
todo dia é dia D

Há urubus no telhado
e a carne seca é servida
escorpião encravado
na minha própria ferida
só escapo
(...)
pela porta da saída

Todo dia
é o mesmo dia
de amar-te
a morte
morrer
Todo dia é dia dela
Todo dia é dia D

3 comentários:

  1. Pouco conheço da poética do Torquato Neto. Teve para minha geração aquele clima de final de tarde, os sinos da Sé badalando um féretro. Particularmente o assunto do suicídio o qual senti na pele. Mas é impressionante o quanto este texto e aquela linda canção (Prá Dizer Adeus) com o Edu Lobo é uma roda, de alto nível poético, em torno da morte e do suicídio:

    Adeus
    Vou prá não voltar
    E onde quer que eu vá
    sei que vou sozinho

    Tão sózinho amor
    nem é bom pensar
    que eu não volto mais
    desse meu caminho

    Ah! pena eu não saber
    como te contar
    que esse amor foi tanto
    e no entanto eu queria dizer

    vem
    eu só sei dizer
    vem
    nem que seja só
    prá dizer adeus

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  2. O piauiense Torquato Neto, é um dos maiores poetas do Brasil recente. Pôs fim a própria vida no dia em que completou 27 anos, em novembro de 1972, reforçando mais ainda o mito misto de santidade e maldição que sempre envolveu a arte underground e a literatura escrita com sangue, suor e lágrimas. Aqui homenageamos o poeta e saudamos sua poesia.

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  3. Grande postagem Rafael, Torquato merece ser revisitado sempre, além do ícone, ele é como você diz, puro suor de sangue.

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