sexta-feira, 4 de julho de 2008

NUMA MESMA SEMANA LIBERTARAM INGRID BETTANCOURT, NELSON MANDELA, AS CRIANÇAS E AS MÃES BRASILEIRAS.

Um amigo queixou-me que não precisava fazer referências às pessoas das quais se originam coisas que criticamos. Tipo tripudiar, por exemplo, a luta armada dos guerrilheiros das FARCs logo nesta vitória que envolve a conjunção de táticas e estratégias dos EUA, Israel e do presidente Colombiano. Mais ainda quando o candidato republicano John Mc Cainm numa incrível capacidade de prognosticação, abandona sua pesada campanha em território americano e vem a Bogotá no exato momento em que Ingrid Bettancourt é solta. Nos mesmos dias em que a "relevante" notícia de que as "infiltrações" militares foram feitas com pessoas vestindo camisas com estampa de Che Guevara como a subliminarmente revelar o próximo alvo de tais ações. Ao final foi uma grande vitória de determinadas forças políticas e nenhuma força política, qualquer que seja, em qualquer momento da história poderá abdicar de qualquer tática ou meio de luta pelas suas idéias. Hoje mesmo a incrível e hígida mulher de dupla nacionalidade, não mais aquela esquálida e desnutrida preste a morrer isolada nas selvas colombianas, que uma certa propaganda política fazia crer, aparece nos jornais enquanto embarca no avião do Governo Francês para as justas homenagens das forças políticas que hoje governam a Quinta República. Não por acaso Ingrid Bettancourt deu senhas para que as forças políticas aliadas para o seu resgate alfinetem os presidentes do Equador e Venezuela. Como não é o acaso que, segundo os jornais de hoje, para desespero das referidas forças que de nacionalidade brasileira, tenha advogado o terceiro mandato para o presidente Uribe. É possível retirar-se um valor universal de paz para tais eventos históricos? Você responde.

Mas certamente é possível comemorar, como valor universal, um outro resgate feito no mesmo dia e que ficou na periferia dos noticiosos. Um resgate histórico que destrói e denuncia a arrogância dos seqüestradores. Autoritários, agressivos, com grande margem de ilegalidade e ilegitimidade em suas ações clandestinas por todo o mundo. Uma força destrutiva que esteve associada às maiores quantidades de mortes dos séculos XX e XXI. Uma organização feita para o próprio resultado, que pretende impor ao restante da humanidade uma única visão, a visão subordinante aos preceitos de sua natureza invasiva. Em tal dia o quase nonagenário cidadão do mundo Nelson Mandela, que lutou a luta justa contra o regime segregacionista dos africanos em seu próprio continente de origem, foi libertado pelo "estado guerrilheiro" dos Estados Unidos da América de sua condição de "terrorista". Agora Mandela pode ter o único título maior que o próprio Nobel da Paz que ganhara há muitos anos. Os EUA lhe deram a comenda de bem comportado estrangeiro.

Igualmente universal, para reflexão de milhares de pessoas que circularam e-mails contra as políticas de proteção social e de transferência de renda. Os textos dos que se julgam vítimas dos impostos para pagar as cigarras que aparentemente não fizeram seu trabalho no verão e agora as formigas de roça se queixam. Como reflexão geral para os brasileiros que em qualquer data da década de 90, perderam a noção de sociedade e estado. Parte porque perderam a solidariedade, como efeito colateral da queda dos regimes socialistas e parte porque guardaram profundamente em suas almas a propaganda com que os grandes compradores do patrimônio estatal brasileiro tentaram traduzir o Estado. Os objetivos foram atingidos, mas a idéia que o Estado é uma coisa fora da sociedade ficou. A idéia que o Estado é uma empresa e não a própria sociedade.

Pois hoje, é universal, a sociedade brasileira, por meio do seu Estado, por sucessivos governos de natureza social democrática, reduziu a pobreza, a morte infantil e a desnutrição das crianças. Hoje, muito próximo de aposentar-me como funcionário da saúde pública brasileira posso dizer, que a consciência que minha geração teve de que a realidade poderia ser diferente, que os brasileiros poderiam enfrentar a sua própria mazela, se tornou realidade. A mortalidade infantil em dez anos caiu mais acelerado até do que se pretendia, a desnutrição aguda evaporou-se na população, mulheres vivem mais e a desnutrição crônica das crianças está abaixo de qualquer país em condições iguais ao Brasil. Com isso a sociedade pode acreditar em si mesma, saber que ação coletiva tem resultado, que políticas públicas mudam realidade. Saber que apostar em educação, saneamento básico, proteção social e aumento de renda, saber que os serviços públicos de saúde nos preparam para a vida e para a paz. Fora disso são conceitos particulares, privados, em interesse de grupos privilegiados.

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