sexta-feira, 4 de julho de 2008

"Não é porque Deus quis assim" - A origem e dinamismo da indústria Pornográfica Radiofônica



O Chiqueiro que os criadores constróem para a População



Dêm-lhes caviar e comerão caviar.
Dêm-lhes merda e comerão merda.
A questão é quem os está alimentando e qual o propósito.


Lendo os jornais e páginas da internet por esses dias, não se pode desprezar um tema que vez por outra vem à baila, e que agora obtém status de verdadeira campanha nas ruas. Cansados da mesmice musical das estações de rádio, onde impera a ditadura do forró eletrônico, em suas letras pornográficas, diversas cabeças pensantes começam a se manifestar e organizar-se em forma de movimentos coletivos e de luta pela democratização da mídia. Assim é que recentemente, vários grupos, dentre eles o grupo cratense intitulado "Coletivo Camaradas" aliado a outros, intelectuais, artistas e pessoas em geral de grande prestígio, começam a levar a sério essa questão, promovendo reuniões, inclusive na câmara de vereadores do Crato. O movimento se agiganta a cada reunião. Presumivelmente também, porque grande parte da população é contrária a tudo isso que a mídia lhes impõe como modelo a ser seguido.

Contrariamente ao que muitos podem pensar, o que se tem denominado de "A FARRA DA VIOLÊNCIA", ou nas palavras de alguns: "O longo caminho de perda de identidade do povo", que se consome em meio à pornografia musical do forró eletrônico e da banalidade, não é um fenômeno passivo, aleatório. Não é de forma alguma porque "Deus quis assim", como alguns poderiam até pensar. Pelo contrário, é um processo direcionado, controlado, premeditado, resultado de uma INDÚSTRIA de massificação e alienação cultural movida por grandes interesses financeiros , e que usa a mídia radiofônica como instrumento diário de trabalho e meio de promover e manter uma lavagem cerebral a nível da coletividade. Ao longo dos anos, comerciantes impõe o que a população deve engolir como se fora o sucesso da vez, e a massa vai obtendo dos meios de comunicação os parâmetros para analisar o que é bom ou ruim. "O que é bom está na Globo" já dizia o jargão...

A Mídia, ( Faustão por exemplo ), manipuladoramente diz:

"E agora, o último sucesso da banda Aviões do Forró"

Veja que, uma música INÉDITA é lançada na mídia como "O Sucesso". Antigamente, o sucesso era uma meta do artista ou da gravadora, era alcançado por vendagem. Existia até um programa de TV chamado GLOBO DE OURO, que semanalmente colocava as 10 mais vendidas da semana. Hoje o sucesso é imposto, a mídia lança o sucesso, como os produtores de moda lançam a moda. Lança-se a dança para este verão. A dança da galinha, a dança do peru, a dança do viado, a dança do... Todos terão que seguir, para não fazer feio junto aos colegas, e muitos confessam nas lojas de discos, que compram aqueles CDs de forró nao porque gostam de forró, mas porque "é o que os colegas estão ouvindo", até para não ficar deslocado. O ser humano necessita do sentimento de "PERTENCER", da mesma forma que muitos que vão para shows de bandas de forró dizem até não apreciar muito, preferiam até outra opção mas:

"Isso é o que tem..."
"a gente precisa sair de casa pra alguma coisa...é o que há"
"o som do momento"

Entao vê-se que há alguma coisa muito errada aí. As pessoas estão como PORCOS, comendo aquilo que um criador lhes joga diariamente. Se jogassem "caviar" eles comeriam, se jogassem merda, da mesma forma. A IRRADIADORA ( a mídia ), trabalha dia e noite a cabeça das pessoas criando o Sucesso, que é agora por imposição, não por mérito, e dita todas as normas.

Por outro lado, não se pode gostar do que não se conhece. Só se concebe a formação de platéia, no momento em que se mostram outras opções para as pessoas. Se alguém passou a vida inteira ouvindo um certo tipo de música, esta pessoa certamente que achará horrível todas as outras coisas que não se pareçam com o que ela conhece. É o que se chama de processo de aculturação. Por isso é que há essa reivindicação pela democratização dos meios de comunicação. Ali é que está precisamente o PILAR maior de sustentação de toda essa estrutura perversa da mediocridade.

E acreditem:
Não é um fenômeno "dos tempos", é uma estrutura cuidadosamente planejada por grandes empresários no sentido da manipulação das massas para obtenção de lucros. Outro dia a TV estava prestando homenagens àquele Senhor que promoveu toda essa indústria no Ceará, quando criou as primeiras bandas de forró eletrônico e hoje possui um verdadeiro império do forró. Ao meu ver, ele não deve ser homenageado. É um grande erro manipular a consciência das pessoas. É um indivíduo NOCIVO ao bem-estar da sociedade, que deveria ser punido por construir uma estrutura perversa na mídia que através de dinheiro, comprou praticamente todos os espaços no rádio e um canal de satélite para monopolizar tudo isso que está aí. As estações de rádio do Cariri, a título de curiosidade, deixam de gerar grande parte da programação local, e entregam a maior parte do seu tempo para "o satélite", que manda o que mais LHE convier. Como se dá nome a isso ?
Eu chamaria de A Ditadura da Mídia.

Esse homem é uma espécie de Ditador, não precisa que eu veicule o nome dele para que todos saibam de quem estou falando. Ele deveria ser responsabilizado pela indústria pornográfica radiofônica que está mantendo, o império da bestialidade, da exaltação das piores qualidades humanas. Ele comanda a maioria dessas bandas.

Por isso repito, esse fenômeno que ora atravessamos na música veiculada no rádio, da inversão de valores, da apologia ao alcoolismo, à violência, à infidelidade conjugal, à desagregação familiar, exaltação ao "ser perdido" em todos os sentidos, não é um fenômeno passivo, do acaso, é antes, fruto de mentes perversas que com sua ganância, destroem lares, e rebaixam o papel da mulher na sociedade. É um processo ativo e dinâmico, e possui um autor poderoso, com toda a permissividade e cumplicidade de altas esferas que nunca pararam para se questionar como um só homem construiu todo um Império baseado na Mediocridade, na Manipulação, Massificação e na Bestialidade representadas pelas bandas de Forró Eletrônico.


Por: Dihelson Mendonça
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4 comentários:

  1. É muita pretensão achar que o produto que você fabrica (ou o seu gosto pessoal) é caviar e o produto dos outros (ou o gosto dos outros) é merda. Existe uma palavra na língua portuguesa que define bem esse tipo de comportamento narcisista: cabotinismo.Falo isso mas sei o quanto você é uma pessoa simples e incapaz de uma atitude pretensiosa dessas. De um seu fã que nunca ouviu nada seu mas dado a sua autopropaganda imagino que seja coisa de alta qualidade. Como na sua metáfora clichê: caviar.

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  2. Reduzir o movimento contra a Farra da Violência a briga de gosto musical, é tentar simplificar o problema.

    Prezado Maurício, é talvez com palavras fortes assim, e comparações absurdas como as que eu ora usei, que às vezes se extrai a ferro e a fogo alguma reação deste público apático e desinteressado.

    Aqui na cidade, nossos antigos líderes culturais jogaram a toalha no chão. Não vão mais às reuniões nem para tentar lutar.

    Apesar disso, o movimento ( que diga-se de passagem, não é organizado por mim, e sim pelo Grupo Coletivo Camaradas do jovem Alexandre Lucas, em que eu sou mero espectador ), vai muito bem, e precisamos falar mais sobre esse assunto. Hoje haverá nova reunião na câmara dos vereadores. Espero que tenhamos algum resultado, algum dado concreto ao final desta.

    Não é com um mero texto desses que escrevi que se muda toda uma decadência que já vem de décadas. Não é uma mera questão de gosto musical, seria simplificar a questão. Só quem lida com a realidade das bandas de forró eletrônico e seus males consegue compreender a extensão do problema.

    Ainda bem que mais e mais pessoas se engajam nessa campanha, como o Ariano Suassuna e outros. O músico Dominguinhos já vem denunciando isso há uns 15 anos em cada show. Eu o faço nos meus shows há uns 5 anos. Os artistas locais estão passando a fazer também, como nos shows recentes de Abidoral jamacaru e João do Crato e muitos outros.

    Não queremos ser esmagados por uma indústria que estabeleceu um MONOPÓLIO que retira do cidadão o direito a ouvir outras coisas. Não sou a favor da extinção do forró eletrônico, pelo mesmo motivo de que penso democraticamente, ( num primeiro momento, a atitude é de confronto e luta, num segundo, de negociação ), mas a mídia tem que ser democrática e dar espaços para todos os gêneros. Há N gostos musicais. Porque compraram todos os espaços das estações para veicular apenas UM estilo ? Isso claramente é formação de Cartel. E um cartel de mediocridade, que promove as piores qualidades humanas.

    E nesse exato momento em que escrevo estas linhas explode bem acolá, do outro lado da cidade um som de banda de forró, vindo de um paredão sonoro daqueles reboques, que a essa hora da noite, são proibidos. O reboque está posicionado a cerca de 1Km daqui, mas escuta-se como se estivesse bem próximo. O som invade residências de quem nem deseja ouvir. Falta de respeito. É uma terra sem lei e sem ordem. O Pachelly tem denunciado esses abusos às autoridades em vão...são coniventes. Essas pessoas não se contentam em ouvir só pra si. Acham que precisam mostrar à cidade inteira a meleca que eles consomem.

    Um Abraço,

    Dihelson Mendonça

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  3. Acabei sendo muito redutor no meu comentário.Umn pouco irritado com a redução do problema à duas categorias : caviar e merda. A velha lógica bipolar antagônica. Mas acho que o caminho do rádio é a segmentação (com a web a hipersegmentação). Não acredito em teorias da conspiração embora saiba muito bem como funciona a mídia de massa.As pesssoas consomem o que conhecem mas também o que atinge o seu gosto (gostemos ou não). Como você também sou super incomodado pelos aparelhos de som cada vez maiores dos carros se impondo sobre nós (independente da qualidade da música). Paradoxalmente acho superimportante o seu trabalho pela manuntenção da diversidade musical (abaixo a monocultura!) mas acho o seu discurso elitista (no mal sentido) e um tanto agressivo-reativo. Não acredito nesse tipo de discurso. Já tomei vacina antirábica.
    P.S:fiquei impressionado com o estúdio de som em que você aparece na foto. É legal poder ter essa qualidade técnica para a divulgação do que se gosta. Pois como dizia o velho MacLuhan "o meio é a mensagem.
    Abs.

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  4. Prezado Maurício,

    Neste estúdio é que pretendo realizar um grande trabalho de preservação da nossa história. Estou investindo pesado na construção de estúdio ao lado para a produção de entrevistas, documentários, programas culturais que servirão para o registro da nossa era e criação do Museu da Imagem e do Som da nossa região, já que as pessoas aqui não tem esse tipo de iniciativa. O material já está instalado em sala ao lado provisoriamente. O estúdio é bem maior, na verdade, no site

    www.blogsdocariri.com

    Vc encontra logo no início, uma reportagem sobre o estúdio por dentro, que ocupa atualmente 4 salas. É uma estrutura que está sendo construída há mais de 15 anos. Cada centavo é importante nisso. Nesse novo empreendimento, eu pretendo obter patrocínio, e a união dos grupos e pessoas que fazem a arte na regiao, pois o projeto é direcionado a elas.

    Há cerca de 4 anos mantenho diversos sites que visam promover a cultura, mesmo sem apoio de quase ninguém.

    Agora, alguns estão aparecendo e somando forças. Acho isso um dado muito positivo. Estamos em constantes negociações agora com o poder público e caminhando em busca de soluções para se obter uma diversidade. Não se quer o monopópio de uma só cultura, mesmo que fosse a de maior qualidade, ou de evolução artística. O que se batalha são espaços ao sol para todos: Grupos Folclóricos, Música Popular Brasileira, cultura universal, todo tipo de manifestação cultural, de todos os gêneros, inclusive artistas plásticos, e de outras áreas.

    Não sei quais os métodos mais eficazes de se chegar a isso, mas com certeza, passa pela organização da classe artística. Está sendo promovido um amplo debate para criação de associações de artistas na região. Vamos ver no que isso tudo vai dar. Espero que algo de positivo venha disso tudo, que eu acho muito mais importante do que o reconhecimento do trabalho em si. Não busco reconhecimento por isso, a não ser na arte individual que produzo. Sempre divulgo vídeos e músicas de outros colegas, quando poderia estar divulgando meus trabalhos. Após 28 em música, concertos e shows com todos, estou finalmente gravando meu primeiro CD autoral, quase que atendendo a pedidos. É uma necessidade de registro. Com o estúdio em mãos bem que poderia fazer um por dia, mas dou prioridade aos outros que por aqui passam. Você nao deve ter visto nenhum vídeo meu por aqui ainda, e mesmo esta divulgação pode ser dispensável. O que tenho divulgado meu ainda, são datas de concertos, isso porque o povo do Crato não sai de casa MESMO, mas a meta maior sempre deve ser o coletivo.

    O valor das nossas vidas, pelo menos da minha, é se eu conseguir dar algum sentido de auxílio em uma mudança ainda que pequena nessa terrível situação do homem moderno, de violência, de falta de educação básica, de humanismo. Feito isso, já é alguma coisa.

    Aproveito para parabenizar a luta de Alemberg Quindins, um grande homem da cidade de Nova Olinda, que construiu todo um complexo cultural, que é um modelo de recuperação para os jovens e preservação da arte que conseguiu envolver toda uma cidade, que reúne rádio, TV, escolas de arte, museu, videoteca, etc... mas sábiamente buscou antes apoio o governo, e entidades da europa para financiar os seus planos. Chama-se Fundação Casa Grande, e tudo começou de uma simples idéia, como sempre.

    Um grande abraço,

    DM

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