terça-feira, 22 de julho de 2008

Salmos

Mente por demais caridosa
sempre cai em armadilhas bestiais.
A mão trêmula,
os olhos turvos.
Esse brilho todo é nosso.
Comunga-te com a Verdade.
Os pássaros engaiolados
por cantarem furiosos
não te perdoam o cárcere.
Tu que não vês a tristeza.
Esse brilho todo é nosso.
Comunga-te com o Vazio.
Os objetos silenciosos
quando tu dormes
livram-se eles das vestes.
Que sutileza de covardia
teus sonhos gordurosos.
Mão trêmula,
os olhos turvos.
Toda essa farsa é nossa.
Quanta ausência em tuas palavras.
Lava teus pés sobre o jazigo de teus avós.
Sê homem, canalha.
Sê forte o bastante para permitir ao verme teu coração.
Nada de escarros, teu sangue não é sagrado.
Comunga-te com a noite.
Esse arrepio todo é nosso.
Essas vértebras enferrujadas nossas asas.
Cada uma delas é uma porta que se abre.
Tu morres sempre muito cedo.
O sopro é um tiro enxofre.
Em um piscar de cursor,
debruçarás sobre as teclas.
O vento só leva cinzas de guerreiros.
Comunga-te com a Morte.
Ainda não estás no Hades
mas o ventilador empoeirado
abre suas hélices.
Esse ruído melancólico é nosso.
Que mais desejas, tolo?

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