sábado, 23 de agosto de 2008

VEJA - Edição 2075 - 27 de agosto de 2008

Otávio Cabral
Fotos divulgação, Valterci Santos/Gazeta do Povo/Folha Imagem, Alan Marques/Folha Imagem, Ricardo Stuckert/ABR
Brasil
O recado de Garanhuns
O presidente Lula é quase uma unanimidade em sua terra natal, mas isso não seria suficiente para eleger o seu sucessor. O preferido lá ainda é o tucano José Serra
PETISTAS X TUCANOS

Pesquisa mostra que transferência de votos não é automática. Em Garanhuns, a ministra Dilma Rousseff tem um desempenho melhor contra o governador Aécio Neves, mas perde feio para José Serra


Os altos índices de popularidade do presidente Lula autorizam a imaginar que, caso os atuais patamares se mantenham em alta até 2010, a eleição presidencial será uma barbada para o candidato do Planalto. Bastaria ao presidente escolher um bom nome e preparar a festa da posse. Os petistas não têm dúvidas de que o processo de sucessão caminha naturalmente em direção a esse cenário mais do que confortável – e já se engalfinham para tentar influir na escolha do "eleito" para subir a rampa do Palácio do Planalto. A transferência de voto de um líder carismático para um herdeiro ungido pode não ser tão automática quanto se imagina. Uma pesquisa feita em Garanhuns, cidade natal de Lula, com 125 000 habitantes, reforça esse último argumento. Os levantamentos mostram que o governo Lula é aprovado por mais de 55% da população brasileira, um recorde histórico. Em Garanhuns, o presidente é quase uma unanimidade. Nada menos que 97% dos moradores do município avaliam positivamente o governo e apontam o programa Bolsa Família, que beneficia quase metade da população local, como uma de suas grandes realizações. Em quem os garanhuenses votariam se as eleições presidenciais fossem hoje? No candidato de Lula? A pesquisa feita por um instituto ligado à Universidade Federal de Pernambuco mostra que, se Garanhuns fosse tomado como uma amostra do Brasil, o sucessor de Lula seria José Serra, governador de São Paulo.
No cenário eleitoral mais provável – com o tucano José Serra, o deputado Ciro Gomes, do PSB, e a petista Dilma Rousseff, a provável candidata de Lula –, o governador paulista aparece com 40% das intenções de voto, o dobro de Ciro (20%) e o quádruplo de Dilma (10%). Para testar a capacidade de transferência de votos, os pesquisadores também apresentaram Dilma como a candidata apoiada por Lula. Nessa situação, ela sobe para 26%. Mesmo assim, ainda fica bem longe de Serra, que continua liderando com 38%. A pesquisa também traçou outro cenário, desta vez com o tucano Aécio Neves na disputa. Nem assim a transferência em massa de intenções de voto se concretizou. Sem Serra, Ciro Gomes aparece liderando (41%), seguido por Dilma Rousseff (11%) e Aécio (5%). O resultado do levantamento, embora sem nenhum valor para testar as possibilidades reais dos candidatos, está sendo comemorado pelos tucanos, que andam meio desnorteados, sem saber como enfrentar o governo e a popularidade do presidente. "Lula é um presidente muito popular, principalmente nas regiões mais pobres, o que o torna praticamente um rei em grande parte do Norte e do Nordeste", analisa o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Mas ele não é Deus, não tem poder divino de eleger seu sucessor."
Animados com o veredicto de Garanhuns, os tucanos pretendem repetir as sondagens em outras cidades do Nordeste na tentativa de aferir a disposição dos eleitores em votar no candidato do governo. "Lula é um eleitor de peso, mas a oposição tem grande chance de vencer em 2010. Se o PSDB tiver uma boa estratégia e marchar unido vencerá a eleição", aposta o deputado José Aníbal, líder do partido na Câmara. O otimismo aparente, no entanto, não dissipa totalmente a perplexidade que toma conta do PSDB. Nas últimas duas eleições vencidas por Lula, em 2002 e 2006, os petistas tiveram o trabalho facilitado pelas constantes disputas entre os próprios tucanos. Ainda faltam dois anos para a eleição presidencial e o problema se repete. Hoje, o governador José Serra é teoricamente o favorito para disputar a sucessão de Lula, mas vem perdendo força na máquina do partido. Já Aécio Neves, que é pouco conhecido nacionalmente, trabalha para ocupar espaços e garantir que a luta pela indicação de um candidato do partido à Presidência passe por Minas Gerais. Dessa forma, enquanto mais uma vez o PSDB se divide, Lula vai unindo o PT em torno da candidatura cada dia mais óbvia da ministra Dilma Rousseff. Daqui a pouco, nem Garanhuns conseguirá resistir.

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