quinta-feira, 11 de setembro de 2008

IPÊ ROXO: UM RÉQUIEM PARA O CAPITALISMO

Em referência a oportuna postagem do Armando Rafael.


Quando os Ipês se acabarem a única pergunta não respondida será: por que o Ipês existiram? Todas as outras respostas já as temos. De muito tempo. Desde que se aplicou ao ânimo vital a matriz do progresso pessoal. Em seguida deram a esta matriz individual um valor social de comparação, ampliada em poder econômico, expressão política e corrida ininterrupta a algum ponto que não se sabe bem qual. É como um vício que necessita continuamente de mais uma dose.

A pobreza, as moradias dos pobres poluem. Os dejetos e despejos humanos poluem. Mas não há nada mais poluidor, destruir de recursos não renováveis do que O exercício do progresso pessoal. O consumo dos ricos está corroendo as raízes dos ipês. Tantas casas vazias para que um dia lá se encontrem, máquinas quentíssimas a quatro quilômetros por litro de combustível, excessos em tudo, para cima e para baixa em busca de nada.

Quando este progresso material se viu numa escala de um projeto nacional, a situação saltou para o aquecimento global. As florestas foram derrubadas, os reservatórios de matérias primas consumidos velozmente. E o desperdícios? Gastam-se milhares de quilowatts para construir um produto descartável ou na melhor das hipóteses, abandonados na onda da volúpia do próximo consumo.

Em menos de 50 anos de exploração do Pau Brasil nesta imensa costa de mata atlântica, na era das caravelas e da rudeza dos instrumentos madeireiros, não era mais possível encontrar espécimes da planta há menos de 30 a 50 quilômetros da costa. A ilha de Chipre no mediterrâneo era uma coisa excepcional. Com florestas de cedros, quase todo o seu perímetro recoberto de árvores frondosas. Na idade do bronze foi definitivamente consumida e jamais se recuperou, se tornando uma vegetação baixa, de capim e um relevo pedregoso.

Agora compreendamos. Isso é uma questão política. Conservação do meio ambiente e mesmo o desenvolvimento sustentável é uma reviravolta no capitalismo e na sociedade de progresso material ao infinito. Não há como não atingir o cerne das instituições do capitalismo. E se atingir instituições é levantar conflito humano como estamos acostumados a observar para todos os lados. E conflito humano é dissimulado, feito de manobras estratégicas e com um linguajar trocado para não revelar o que de fato se defende.

Mesmo um Ipê, esta unanimidade, revela o dissenso da contradição do progresso consumidor. Agora que ficamos presos por um clique do Pachelly nas encostas da chapada do Araripe, o que mais temos a acrescentar a respeito do Ipê e sua morte anunciada?

Um comentário:

  1. Por conta da nota postada fui informado de que o médico-empresário Antônio Correia Saraiva - proprietário do Arajara-Park - plantou mais de 200 mudas de Ipê (branco,roxo,amarelo) no seu empreendimento localizado ao sopé da Chapada do Araripe.
    Aleluia!

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