quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A CRISE NA VISÃO DE TRÊS BAMBAS DA ECONOMIA

Terça Feira no salão de recepções da Câmara de Vereadores do Rio, na Cinelândia, uma reunião para poucos convidados. Políticos, militantes, membros da OAB e ABI, ouviram e debateram com Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa e Reinaldo Guimarães a atual crise econômica. O ex-deputado Vivaldo Barbosa coordenou o evento e a situação dos próximos anos e deste não é nada tranqüila. Nenhuma prática política se manterá igual pois a crise é tão abrangente que o rumo terá que mudar.

Para todos os debatedores a crise é ampla e tem uma importância histórica de relevância. O capitalismo funciona em crises, ao longo do século XX foram mais de 40 delas, porém entre o final do século XIX e até hoje duas crises foram realmente modificadoras. A primeira entre 1870 e 1890, abalou o império inglês e tornou mais violento, acompanhou-se da queda do padrão ouro inglês e seguramente esteve na raiz da primeira guerra mundial e da revolução russa. A segunda nos anos 30 do século XX, na raiz dos regimes nazo-facistas, a segunda grande guerra e o surgimento da hegemonia americana e da bipolaridade entre esta e a União Soviética. Os debatedores foram concordantes que esta crise é equiparável às duas primeiras, os valores do capital e das empresas capitalistas despencaram, a economia real, aquela que influencia sobre os bens e sobre o emprego também se encontra em crise. Os efeitos sociais da crise serão mais marcantes a partir do próximo ano e em 2010 estaremos em plena recessão.

Todos foram unânimes em acusar o modelo neoliberal com o motor da crise, a base estruturas se encontra na desregulamentação e em práticas lesivas à economia real, especialmente numa bolha de crescimento baseado em derivativos financeiros. Em todo o debate esteve em foco a volúpia com que os líderes brasileiros no Governo Fernando Henrique aderiram ao "cassino" financeiro internacional, contaminando toda cadeia produtiva brasileira e nos deixando em situação efetivamente grave. O governo Lula, em menor ou maior escala, dependendo dos compromissos políticos de cada debatedor, foi posto em linha com a crise pelo que deixou de fazer e especialmente pelo comportamento dos juros, do endividamento externo e pela política cambial frouxa.

A sensação de quem assistiu ao debate é que na raiz do problema temos fortes indícios de que a catástrofe nos atingirá igualmente e em maior escala, pois somos um país economicamente pequeno. Que esta catástrofe guarda relação com aquele discurso ideológico dos anos noventa, do Estado Mínimo, da desregulamentação e o Mercado Soberano. Guarda relação com os Governos Fernando Henrique e Lula que afinal não souberam defender um projeto nacional e ficaram a reboque de três grandes áreas da economia brasileira: agronegócio, bancos e produtores de commodities minerais.

A principal marca do debate é que não apareceu, até agora, nenhuma medida prática que proteja o emprego, que sustente a poupança popular e salvaguarde o pequeno patrimônio das famílias. O governo tem atendido aos interesses das três áreas citadas e não adotou medidas regulatórias que dê rumos pois o atual estado das coisas não se sustentará. Finalmente o debate apontou para a necessidade que a sociedade se mobilize, que os partidos políticos definam um programa mínimo de consenso para proteger a nação e o povo brasileiro. A verdade é que a crise é profunda e ameaça até mesmo o patrimônio da nação como a Amazônia e o petróleo do Pré-Sal.

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