Livros
SER HUMANO ABOMINÁVEL
Alencar e o trabalho escravo (à esq.): contra os filantropos
O romântico cínico
Os panfletos escravistas de José de Alencar
O título estarrecedor não é o original. Os textos que reaparecem agora como Cartas a Favor da Escravidão (Hedra; 160 páginas; 18 reais) foram publicados entre 1867 e 1868 como Novas Cartas Políticas. Mas seu autor, o romancista e político José de Alencar, dificilmente levantaria objeções ao novo título. Pois o objeto central de seus textos – uma série de panfletos endereçados, na forma de cartas públicas, ao imperador dom Pedro II, que vinha expressando uma débil simpatia pela causa abolicionista – era esse mesmo: defender o trabalho escravo, instituição vergonhosa que só o Brasil, entre todas as nações independentes da América, ainda sustentava. Sobra pouco do autor cearense depois da leitura desses textos. Consagrado sobretudo pelo romantismo indianista de Iracema e O Guarani, José de Alencar era um escritor quando muito medíocre – e, como o leitor de suas invectivas escravistas poderá constatar, um ser humano abominável.
O empenho escravista de Alencar já era fato conhecido. Mas a republicação de sua defesa do regime escravo – em edição organizada pelo jornalista e historiador Tâmis Parron – permite que o leitor tome contato direto com o cinismo de sua argumentação. Nas cartas de Alencar, o escravo aparece como um feliz agente da civilização nos trópicos. Os abolicionistas são ironizados como utopistas de gabinete, cuja filantropia de inspiração européia empalidece na comparação com a caridade praticada no "seio da família brasileira", com sua "senhora de primeira classe" desvelando-se na "cabeceira do escravo enfermo". José de Alencar morreu de tuberculose, aos 48 anos, em 1877. Não teve o desgosto de assistir à abolição, em 1888.
Os panfletos escravistas de José de Alencar
O título estarrecedor não é o original. Os textos que reaparecem agora como Cartas a Favor da Escravidão (Hedra; 160 páginas; 18 reais) foram publicados entre 1867 e 1868 como Novas Cartas Políticas. Mas seu autor, o romancista e político José de Alencar, dificilmente levantaria objeções ao novo título. Pois o objeto central de seus textos – uma série de panfletos endereçados, na forma de cartas públicas, ao imperador dom Pedro II, que vinha expressando uma débil simpatia pela causa abolicionista – era esse mesmo: defender o trabalho escravo, instituição vergonhosa que só o Brasil, entre todas as nações independentes da América, ainda sustentava. Sobra pouco do autor cearense depois da leitura desses textos. Consagrado sobretudo pelo romantismo indianista de Iracema e O Guarani, José de Alencar era um escritor quando muito medíocre – e, como o leitor de suas invectivas escravistas poderá constatar, um ser humano abominável.
O empenho escravista de Alencar já era fato conhecido. Mas a republicação de sua defesa do regime escravo – em edição organizada pelo jornalista e historiador Tâmis Parron – permite que o leitor tome contato direto com o cinismo de sua argumentação. Nas cartas de Alencar, o escravo aparece como um feliz agente da civilização nos trópicos. Os abolicionistas são ironizados como utopistas de gabinete, cuja filantropia de inspiração européia empalidece na comparação com a caridade praticada no "seio da família brasileira", com sua "senhora de primeira classe" desvelando-se na "cabeceira do escravo enfermo". José de Alencar morreu de tuberculose, aos 48 anos, em 1877. Não teve o desgosto de assistir à abolição, em 1888.
(fonte: revista "Veja" edição 2082, 15 de outubro de 2008)
José Martiniano de Alencar Filho - ou simplesmente JOSÉ DE ALENCAR, o romancista - era filho de José Martiniano de Alencar. Sobre este último leia abaixo matéria publicada no jornal O POVO, de Fortaleza, edição de 29/12/1994:
ResponderExcluir1994 é o ano do bicentenário do pai de José de Alencar
Há dois séculos nascia uma personalidade que marcou por 50 anos a política local e nacional. Filho da revolucionária Bárbara de Alencar e pai do consagrado autor de “Iracema”, José Martiniano de Alencar era republicano e, já aos 23 anos, foi um dos responsáveis pelo movimento que proclamou no Crato um governo revolucionário.
Tão marcante quanto controvertida, a figura pública de José Martiniano de Alencar deixa dúvidas para a posteridade. É acusado de ter sido covarde – teria negado no seu julgamento a participação no movimento do Crato, imputando a seu irmão Tristão Gonçalves todo o erro. Já o seu sobrinho, o conselheiro Tristão Araripe, em artigo publicado no “Diário de Pernambuco”, afirma que Alencar contestou a utilidade do movimento “ponderando os perigos do desmembramento do Império e da aceitação do princípio democrático puro”, mas convencido pelo irmão tomou parte na revolução e jamais negou a autoria dos próprios atos. Segundo essa versão, o acusado foi absolvido por pessoas influentes na política da época que lhe reconheceram a moderação e os serviços prestados à causa pública como deputado constituinte.
Controvérsias à parte, José Martiniano de Alencar conseguiu de alguma forma voltar às boas com o poder político da época já em agosto de 1834 é o nomeado o sétimo presidente do Ceará e em 1841 assume cadeira no Senado. Nessa época, apresentou um projeto que foi motivo de grande polêmica. Queria dividir o Ceará e criar nova província, o “Cariri Novo”, mas segundo o historiador José Aurélio Saraiva Câmara o verdadeiro objetivo era diminuir a zona de ação dos seus adversários e implantar um império próprio no Sul da província. Nomeado novamente presidente do Ceará, esquece o projeto – não tinha interesse de dividir a província e diminuir seu poder. Quando destituído da presidência do Ceará, em 1837, José Martiniano de Alencar segue com a família para o Rio de Janeiro, onde morre 23 anos depois, aos 65 anos, vítima provavelmente de infecção tifóide.