sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

EFÍGIE

EFÍGIE

Dedicado a Correinha


Pela espinha dorsal do tempo
Vejo hoje o homem interior que sou
E brigo com uma realidade fantástica
Daquele que, nas tênebras, vê a própria morte no ar!

Os olhos fitos através do teto,
Um gosto aziago já se faz na garganta,
O cheiro da terra parece bem mais perto,
E toda a natureza testemunha no esplendor da tarde.

Verdes folhas a crepitar no amarelo
reluzente do ouro, e o azul sereno do céu
a tecer o meu futuro breve
-- esta será minha última noite! --

E então serei arrastado pelas mesmas pessoas
Há quem entoe para mim as ladainhas
Proximo a um corpo inerte
Pois sei que meu caixão já está encomendado...

Tambem meu corpo assim padece,
Que mais há de fazer nesta terra miserável ?
Debalde verti a mocidade em sensações efêmeras
E consumi a velhice em lágrimas de arrependimento !

Amanhã, pois, serei um.
Apenas mais um.
Um corpo fétido a poluir o cemitério
Hoje, valorizo a sepultura
A passar antes de mim vi muitos, hoje é meu dia
...e de meus companheiros de morte.
...
Nada mais há para dizer !
A tristeza jaz no ar convulso.
A noite se aproxima...
A hora derradeira se aproxima...

Afinal, que mal há em ser apenas uma lápide ?
Mais uma lápide ?
E me contentarei em ser inerte como o mármore.
E serei recompensado pela paz dos cemitérios

Que diferença jaz entre o momento atual e a hora
em que hei de passar ?
Que diferença há entre o teu e o meu momento
em que escrevi essas linhas ?
Sob um prisma de visão, o ontem é o hoje, e
o hoje, o amanhã. Se hoje, portanto morri para uma vida,
Amanhã ressucitarei para ser eterno dentro de um poema ?
...por um breve momento apenas...
...por um breve momento... e nada mais !


Dihelson Mendonça
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