sábado, 24 de janeiro de 2009

Tempo Nublado

Esse tempo nublado
conhece meu ventre:
a dor de barriga -
da alma.

O cafezinho agora
um tablete de gelo.
Penso no quintal
do casarão da minha vó.

Cá não têm embuás -
nem os esdrúxulos parentes.

Cá não pesco peixes -
as folhas da mangueira.

Cá apenas um quarto úmido
de gordurosas traças.

Sempre soube do risco iminente.
O solo era uma imensa fossa -
como explicar tão viçosos frutos?

Esse tempo nublado
sabe da minha mente:
um doce vácuo adormecido.

Lembro-me do fantástico quintal
do casarão da minha vó.
A pedra enorme
de bater e secar roupas -
do meu pai única herança.

Até o fim dos meus dias
sonharei que dentro daquela pedra
esconde-se um inacreditável tesouro.

Esse tempo nublado é foda.
E sequer passa um cremezinho balsâmico.

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