quinta-feira, 19 de março de 2009

Virulências

Acordar de madrugada no feriado
com um bicho morto no telhado
desperta a insônia do fidalgo.

Fazia tempo que não sentira náuseas,
eis então o dia perfeito -

ventre de bode aberto
na sua mesa de jantar.

Mas o que lhe afeta a alma
é esse estado putrefato
sobre seu telhado.

Suas narinas latejando
feito sonda de mosca-varejeira
não conseguem detectar o defunto.

No quarto,
acima da cama de casal
onde mais fede e causa pesadelos.

É lá que o fidalgo faz cara de nojo.
Suas narinas espirram.

Pega o lençol,
se manda para o quarto do filho -

apenas um chulezinho
de tênis molhado
incomoda.

Suas narinas não sossegam.
Despregam-se do corpo.

Saem pelas junções de paredes
no alto atingindo o teto
cheirando tudo que é suspeito.

E o fidalgo já dorme.

Por desvio de septo nasal
seus roncos ouvidos
bem de perto
pelas aranhas
e traças.

As narinas precisam das mãos.
Assoviam.

As mãos logo se desprendem
também do corpo.

Com ajuda delas
que destelham a casa
as narinas viajam em cada brecha.

Enfim encontram o cadáver -
sabem aquela minha lagartixa?

Mor-reu.

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