segunda-feira, 20 de abril de 2009

"Cansaço"

Cansaço
o coração quase morno,
uma estação de trem
sem aviso de chegada ou partida,
sem o rosto aflito de uma mãe
a aguardar o filho que retorna
e nas mãos traz sinais de ruas distantes,
talvez o cheiro da que amou, talvez

Cansaço
as unhas não sabem
o que se passa na outra rua
quando venta, e as folhas fazem voltas,
e nas voltas descrevem um nome
que mal cabe num verso,
nome indecifrável esvoaçando sobre a calçada

Cansaço
vê-se que as palavras estão secas
e podem quebrar-se
tão logo vibrem no cimento, cuja pele é fria,
perfeitamente adequada para um corpo
que conheceu os prazeres nas chamas de uma mulher,
dessas que mudam a história que já estava escrita
mas não se realiza, porque o certo e garantido
não vale nada, quando dois olhos de desejos carregados
se põem sobre o viajante incauto

Por que te deixaste levar, meu filho?
Tu que serias a fortaleza, a rocha da cidade
e nos teus ombros carregarias o peso
da chave com que se guarda o futuro,
tu que foste educado com música e os músculos sob tensão?

Perguntaria a mãe do jovem,
mas nenhuma voz ouviria
e dar-se-ia por contente diante do branco
tímido de seus dentes num sorriso

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