Meu amigo Luiz,
É preciso viver, ainda que doa. Isso você tem feito; eu não. Continuo não só anestesiado, mas também me escondendo. Mas já não tenho mais como me esconder. A noite ficou clara.
Como vai o amigo, tão corajoso?
Não quero falar mal do Brasil; apenas continua uma mulher muito louca. Me deixa cansado. Com seus dois olhos de rubi e sua garganta rouca, ela vai por ai, aprontando.
Estou completamente desafinado. Pretendo viver mais em paz. Você tem me ajudado nisso. É isso aí, você sabe viver. Você não bebe água quente; o mundo é uma geladeira. Você tem alguma coisa contra os pinguins? Acredite: eu queria ser um pinguim.
Não dá pra viver em paz; eu não sou o Himalaia. Mas curto, como você, os picos eternamente nevados. Dizem que há força espiritual por lá. Eu quero encontrar isso por aqui mesmo. Um dia eu vou embora para o Texas.
Caralho! O tempo voa mesmo. (...) Um dia eu vou embora para dentro de mim, e viver plenamente o caos. Nosso tempo é caos. Você morre e a vida continua.
Tenho vivido uma espiritualidade que não é para esse tempo. Eu é que não quero pirar mais do que já estou. Quando estiver mal, use o controle remoto. Somos do deserto e as cidades ainda são de pedra.
Quando é mesmo que o mar vai engolir o litoral? Ele já me engoliu.
O sangue corre nas veias do planeta. É o homem explorando o homem, nos mínimos detalhes.
Quem precisa de moral? Quem precisa de mim? Nem eu mesmo. Quero é me modernizar, viver um tempo sem cara e muito caro para viver.
Vá ao supermercado; eu estou nas prateleiras. Me explodiram; eu era uma baleia.
Por quanto tempo o mar aguentará o homem?
Quem não morre, não vive.
Dinheiro é bom demais.
A vaca é irmã da mulher.
O vento e o poeta são amigos.
Gosto muito de você.
Um grande abraço do amigo Geraldo Urano.
O poeta fala principalmente pela dor, mas também de amor, que se manifesta em uma amizade de longo tempo; assim como esta relação cósmica de Luiz (o sol) e Urano (o planeta gelado). Pura dialética, que só podia dar em poesia.
ResponderExcluirSalute poeteiros!
Urano, sujeito que nunca vi. mas pressenti, quando o dia terminava em algo sacal demais, me deparei com sua carta. a segunda.
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