à época do 2º Reinado
Uma imagem vale mais do que mil palavras.
Esta frase me vem à mente enquanto folheio um livro de História do Brasil, destinado ao ensino de alunos do 2ºº grau. Tenho de dar razão ao prof. Paulo Napoleão Nogueira da Silva, professor de Direito Constitucional na Universidade Estadual Paulista quando escreveu num artigo (*):
"Nos cem anos durante os quais vigorou a proibição de sequer falar-se em monarquia, o País foi programaticamente induzido (as palavras programaticamente induzido vêm grifadas no artigo) a esquecê-la. Diretrizes governamentais de todos os tipos, explícitas ou dissimuladas, foram adotadas nesse sentido. Substituíram Pedro I por José Bonifácio, na iconografia oficial da Independência, mas a figura do Patriarca não calou fundo, além do que ele próprio era um defensor da Monarquia. Então o papel de Tiradentes - relevante no processo de formação e conscientização da nacionalidade, e sem dúvida glorioso - foi enfatizado e realçado a um grau nem sempre compatível com a realidade histórica.
Ainda e sempre, para esconder ou minimizar o papel de Pedro I - um monarca - no processo da Independência. Desde os primeiros dias da República os autores dos livros didáticos para os cursos primário e secundário, segundo critério de orientação e exigências do Ministério da Educação, passaram a só estampar o retrato de Pedro II com as longas barbas e o aspecto cansado dos seus últimos anos de vida, para associar à Monarquia a imagem de velhice, decrepitude e coisa antiga. Esses mesmos livros tratavam, e ainda hoje tratam, de evidenciar as glórias da proclamação da República, o heroísmo de Deodoro e o idealismo dos seus companheiros, como se tivessem participado de uma feroz batalha em prol da liberdade”.
Foi assim que as várias gerações brasileiras - de 1889 até 1988 foram formadas (melhor dizendo "deformadas"), propositadamente, pelos livros de história positivistas republicanos.
(*) O título do artigo é "Terceiro Reinado?", publicado no "DO Leitura", março de 1989.
Redação e postagem de Armando Lopes Rafael
Armando nós trás um texto que procura demonstrar o quanto um dirigismo dogmático pode criar uma narrativa histórica que lhe convém ou como a versão dos vencedores se torna gloriosa frente a versão dos vencidos. Isso é muito importante para qualquer leitor de história quando analisar os séculos XIX e XX até mesmo por que existe uma outra contaminação possível da narrativa que é a reintrepação à luz dos interesse de ocasião. Neste sentido, existiria uma narrativa plena da realidade, uma narrativa do presente,isenta das diretrizes do momento? No meu entender a história efetivamente se tornou uma ciência e como tal agregou métodos, agregou comparações, agregou até mesmo a análise do seu próprio discurso. Isso tudo se não nos permite a "verdade única e verdadeira", nos permite ao menos buscar entender o contexto passado e presente e, claro, a evidências que se sustentam em tais contextos.
ResponderExcluirO importante é que se tais assertivas são válidas para se criticar os livros de história do século XX em relação à monarquia, também o são para referência da história republicana (a única do secúlo XX pois em nenhum momento houve restauração da monarquia por aqui). Inclusive é importante que não se simplifique tanto, pois a manutenção da divindade da hierarquia, na qual se assenta a monarquia, não se esgotou no golpe republicano, ela continuou numa vasta literatura, inclusive por organizações seculares e da igreja. Volto à minha geração e respeito a memória.
Os livros de história de minha época eram até simpáticos com as figuras da monarquia. Nunca lemos críticas reais nestes pequenos opúsculos que servem para o início da vida de qualquer intelectual. E isso era até necessário para o regime vigente, pois é da natureza das nações que se criem a glória da sua fundação e claro a nossa estava numa monarquia européia. Além do mais as revistas laicas, como Cruzeiro, o cinema, a poesia, a literatura, as colunas da sociedade espelhavam isso, imaginem o motivo pelos quais descendentes de PedroII eram destaque, estavam repletas de simpatias com a monarquia, a inglêsa continua sendo do interesse de todos, vide a Rainha e sua coroação nos anos cinquenta e agora a princesa Diana. Os militares vangloriaram Dom Pedro I e Pedro II, assim como todos os livros de história da época.
Por isso, acho que o texto postado pelo Armando, é reducionista na questão, se queixa, sem levantar a extensão das evidências do assunto. Isso não quer dizer que não existam livros didáticos que ponham a monarquia em questão, mas não foi isso o que ocorreu, com certeza, ao longo do século XX.
Meu caro José do Vale,
ResponderExcluirComo sempre, seus comentários têm profundidade e são feitos com elegância e destituídos dos costumeiros laivos de menosprezo com sói acontecer com os escrivinhadores anti-monárquicos.
Entretanto, pela minha ótica, os livros didáticos do século XX não eram simpáticos aos personagens da monarquia.
Apenas os historiadores não poderiam desconhecer que durante quase 400 anos (de 1500 a 1889) o Brasil foi administrado sob a égide da Monarquia e os fatos maiores da nossa história aconteceram naquele período.
Ademais, a forma de governo republicana não deu certo no Brasil. A Constituição do Império vigorou ininterruptamente durante 65 anos, de 1824 a 1889.Na República, em pouco mais de cem anos tivemos pelo menos 6 Constituições diferentes ( a atual, que devolveu a democracia e o Estado de Direito ao nosso país, tem apenas 20 anos); dos 40 presidentes, apenas 12, eleitos pelo sufrágio popular, conseguiram cumprir regularmente seu mandado (aqui incluídos FHC e Lula;e o que dizer dos dois longos períodos ditatoriais, com fechamento do Congresso, presos políticos, cassações,torturas, censura à imprensa, fechamento de sindicatos, etc.?
Pedro Calmon (um dos bons historiadores do século 20)escreveu:
"A República deu a impressão de que envelhecera no segundo mês de existencia (...)Os republicanos foram os primeiros decepcionados. Correu a frase, de que "Esta não era a República dos nossos sonhos"
("História do Brasil", José Olympio, Rio,2ª ed.1961,vol.VI, páginas 1894-1895)
E a própria manutenção do regime republicano deu-se modo nada democrático.Foram adotadas medidas ditatoriais para garrotear a oposição monarquista, a exemplo do "decreto-rolha", da "cláusula pétrea" presentes em todas as constituições republicanas, excetuada a atual com 20 anos...
E por aí vai...