sexta-feira, 3 de abril de 2009

HISTÓRIA DO BRASIL



Uma anomalia da História
(Na foto ao lado, a Bandeira do Reino de Portugal Brasil e Algarves, que era usada no Brasil em 1817)

Costuma-se dizer que a história é sempre escrita pelos vencedores. Na região do Cariri ocorreu o inverso! Os revolucionários republicanos de 1817 - derrotados pela contra-revolução monarquista do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro - são exaltados hoje como heróis. Os feitos desses revolucionários recebem proporções maiores que as reais. Do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro pouco se fala. Por que isso acontece? Motivos vários contribuíram para essa anomalia.
Um deles, certamente, foi causado pelo golpe militar de 15 de novembro de 1889, que derrubou a monarquia e instaurou uma república, de inspiração positivista, com o nome de "Estados Unidos do Brasil". Começava aí a subserviência brasileira aos Estados Unidos da América. As novas autoridades republicanas, além do mais, determinaram um estratégico silêncio sobre tudo que lembrasse o período monárquico brasileiro.
Uma das conseqüências dessa ignóbil determinação foi a famigerada "cláusula pétrea" inserida na primeira constituição republicana de 1891 (e sucessivamente mantida nas demais Constituições republicanas brasileiras de 1934, 1946 e 1967), cujo efeito prático foi levar sucessivas gerações a desconhecerem o que é a forma de governo monárquica e o que o Brasil ficou devendo ao período monárquico.
Tentaram amputar da nossa história quase 400 anos, que vai do descobrimento, em 1500, até o dia 14 de novembro de 1889, quando fomos governados por reis. A partir da proclamação da república vivemos cem anos (de 1889 a 1988) sob a mordaça! Nesse século os brasileiros estudaram uma História censurada, incompleta e até falseada. Essa "cláusula pétrea" foi extinta em boa hora, de forma esmagadora, pelos membros da última Assembléia Nacional Constituinte, em fevereiro de 1987. Inegavelmente, apesar de algumas falhas, devemos à Constituição de 1988 o fato de vivermos hoje numa democracia plena e num Estado de Direito.
Também por conta da proclamação da república, a memória do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro foi programaticamente esquecida. Ao tratarem da Revolução de 1817 (que Leandro derrotou sem necessidade de disparar um único tiro) não se faz justiça ao legendário Brigadeiro. Omite-se sua decisiva participação no episódio. Nem se fala na sua coragem pessoal e cívica. No entanto tantas são as virtudes do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, tão grande é o seu valor, que a fama desse herói cratense – fundador da cidade de Juazeiro do Norte – refulgirá sempre, cada vez mais, a partir de agora e pelos séculos futuros.
Proporcionando aos novos historiadores colocarem em prática o postulado de Enzo Faletto: "A responsabilidade do intelectual é com a verdade".

Redação e postagem de Armando Lopes Rafael

3 comentários:

  1. Armando: quando nascemos Bárbara de Alencar já era uma referência da história do Cariri (nós estamos no final da primeira metade do século XX). O senador Alencar foi uma figura de destaque no século XIX, especialmente do Império de Pedro II. Tristão foi protagonista neste período aqui no Ceará. Zé de Alencar um referência de literatura e num dos governos da monarquia parlamentar do Brasil de então. Portanto é preciso entender que parte do realce da memória dos republicanos de 1817 se deve a estes personagens que foram longevos durante todo aquele século no núcleo do poder do país. Acho que sua decisão de levantar o papel de Leandro Bezerra de Meneses da maior importância para todos, inclusive o papel na ocasião da independência. O difícil, no meu entender, é reduzir o papel dos republicanos para que o brigadeiro apareça. Como referência da história o Brigadeiro deve ser literalmente tratado.

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  2. Armando: retornando ao assunto. Ou seria o brigadeiro apenas um monarquista absolutista, que não considerava a emergência da modernidade da revolução industrial? Em que sentido o Brigadeiro dialogava com a idéias revolucionárias de então: a revolução Inglesa, a Americana e a Francesa? Ele foi contemporâneo de Napoleão. Então é preciso contextualizar o brigadeiro no seu tempo e revelar o seu papel fundante das instituições da época (inclusive a própria coroa brasileira).

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  3. Meu caro José do Vale,
    Obrigado pelos seus comentários.Considero-os válidos.

    Mesmo que eu quisesse não poderia reduzir a ressonância do papel dos revolucionários republicanos que estão inseridos no patrimônio histórico e no imaginário da elite cratense.
    Entretanto, a ressonância da inegável epopéia dos Alencares não tem ressonância nem nas cidades vizinhas ao Crato.

    No tocante ao Brigadeiro, permita-me transcrever um texto do historiador J.Dias da Rocha (citado no meu livreto sobre Leandro e que lhe enviei tempos atrás) quando da visita que o seminarista Martiniano de Alencar fez a Leandro Bezerra Monteiro no sentido de conseguir a adesão, deste último, à Revolução Pernambucana de 1817. A ver:

    " " Esperançado José Martiniano de que à força de eloqüência reduziria sem custo o velho miliciano(Leandro Bezerra Monteiro) , a quem se propôs acenar com as glórias e vantagens que obteria em troca dos seus serviços à causa republicana, fez-se acompanhar pelo vigário de Goiana, fr. Francisco de Sant'Ana Pessoa e foi procurá-lo sem mais demora no engenho das Porteiras. Naufragou na tentação o subdiácono Alencar. As suas palavras calorosas opôs Leandro Bezerra a argumentação que lhe inspirava a razão esclarecida e calma. Francamente confessou a opinião de que se deviam ter por inoportunas quaisquer tentativas para proclamar a independência, e por fatais as que tendessem inaugurar entre nós o regime republicano. Neste particular, ele invocava ocorrências e eventos, de que a idade avançada lhe permitira ser contemporâneo. Julgava-os de um ponto de vista apaixonado, é certo, mas falava a linguagem dos convencidos.
    Foram assim memoradas as provações a que se humilhara a França, poucos anos antes, dominadas pelas facções sanguinárias, e forçada a buscar por fim a salvação no sistema que banira. - Sobretudo, o falso conceito, importado do reino, de que a forma liberal por excelência era incompatível com os princípios religiosos, aumentava-lhe a firmeza, e fornecia-lhe conclusões inabaláveis. Bastava-lhe tal convicção, e a tinha como todos os nossos antepassados, para que ele fosse estrênuo adversário de inovações naquele sentido.
    O entusiasta propagandista esgotou em pura perda o arsenal de argumentos que trazia aparelhados; e desanimou quando, afinal, se resumiu o velho monarquista:
    - " Padre José - disse - é ainda cedo para a nossa emancipação; quanto á república, ela me terá sempre como acérrimo inimigo".

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