sexta-feira, 17 de abril de 2009

Este ano na economia brasileira na visão de Gustavo Franco: ex-presidente do Banco Central no Governo FHC

Os dados do mundo continuam ruins. Melhor dizendo, a economia européia se dissolve em depressão. Em fevereiro a produção industrial caiu 18,4% em relação ao ano passado e 2,3% em relação ao último mês de janeiro. Aqui no Brasil a crise é um fato, não uma marolinha, mas já quem analise a situação com menos gravidade do que ocorre no resto do mundo. A verdade é que ninguém tem o condão da adivinhação, mas uma queda grande e persistente nas economias centrais certamente afetará muito o Brasil que é ainda um país exportador. Talvez naqueilo que o afete surjam soluções de robustez de uma economia mais interna e mais autônoma tanto quanto isso é possível, pelo menos em termos das transações com América Latina, África, Países Árabes, Briscs e a Rússia.

De qualque modo vale a pena ler esta entrevista de Gustavo Franco, ex-presindente do Banco Central na gestão FHC, um daqueles responsáveis pela chamada farra do câmbio. A entrevista se torna mais interessante pois além de ser de um lado oposicionista, o Gustavo Franco é um professor universitário e, portanto, um intelectual. Veja o que segue nesta entrevista publicada no Estado de São Paulo:

Cada mês será melhor, mas pior que o de 2008”

Sexta-Feira, 17 de Abril de 2009 | Versão Impressa

”Cada mês será melhor, mas pior que o de 2008”

Para o economista, a redução da taxa Selic seria mais eficaz para a economia que qualquer pacote do governo

Irany Tereza

Os efeitos da crise internacional na economia brasileira transformaram uma política fiscal “quase irresponsável” em um quase acerto, na opinião do economista Gustavo Franco. Ex-presidente do Banco Central, o hoje sócio-fundador e estrategista-chefe da Rio Bravo Investimentos diz que o sentimento de alívio seria “mais justo” do que euforia no governo. Para ele, a redução da taxa Selic para um dígito será mais eficaz para a atividade do que qualquer pacote do governo, “inclusive o PAC, de efeito pequeno na economia como um todo”. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Foi um erro classificar os efeitos da crise como marola?

Uma coisa são as declarações das autoridades, outras são as ações. As declarações são, às vezes, infelizes, mas não têm a menor importância, a não ser no noticiário, no imaginário e na política. Para a economia propriamente dita, não creio que seja verdade que as autoridades econômicas tenham tratado a crise com pouca importância. Do ponto de vista das medidas efetivamente tomadas, acho que a direção, sem dúvida, é correta.

E o que, na sua opinião, não está na direção correta?

A política fiscal. Antes de setembro tínhamos uma situação inadequada, excessivamente expansionista, quase irresponsável, sobreaquecendo a economia. Depois de setembro, as coisas se precipitam com enorme velocidade e essa política contracíclica se inverte, fica menos deslocada e excessiva. As autoridades começam a falar de política anticíclica e aumentam o gasto público. Isso dá a sensação de observar um relógio parado que pelo menos uma vez por dia marca a hora certa. O relógio estava errado, veio a crise, do ponto de vista fiscal ficou certo, mas o tempo não para de passar e daqui a pouco vai precisar encolher, o que será mais complicado.

Os indicadores econômicos melhoram mês a mês, mas há grande saldo negativo em relação há um ano. Está bom ou ruim?

Temos agora uma das pequenas armadilhas da estatística. O País vinha crescendo a um ritmo bastante veloz e a partir de setembro teve um encolhimento em curva muito rápida. A partir daí recomeçamos a crescer lentamente. Vamos continuar, lá pelo meio do ano, com a sensação de que cada mês é melhor do que o anterior, mas ainda pior do que o mesmo mês do ano passado. Essa situação vai prevalecer durante muito tempo e as pessoas vão se divertir com os paradoxos da estatística. A sensação vai ser de crescimento e de que as estatísticas estão erradas.

Essa evolução será suficiente para evitar crescimento negativo este ano?

Difícil dizer. Dependendo do ritmo que as coisas andarem é possível, sim, crescimento positivo este ano. Há muita gente projetando crescimento negativo, ou perto se zero. Mas isso é adivinhação. Depende do que ocorrer no futuro, especialmente em relação à política monetária. Há um fato histórico, que é a taxa de juros cair a um dígito. Isso será muito mais útil e relevante do que os impulsos que vêm nessas iniciativas governamentais; são sempre seletivas e de pouco alcance. Eu incluiria aí o próprio PAC. O investimento total do setor público este ano de 2009 será um pouquinho maior do que 1% do PIB, mesmo com o PAC, o que não é muito diferente do que foi nos últimos anos. Este governo, como muitos que o precederam, sempre procura pegar os investimentos que vai fazer de qualquer jeito e reempacotá-los de um jeito que parece uma iniciativa deste governo.

Há euforia no governo?

Acho deslocada totalmente a ideia de euforia. Alívio talvez seja o sentimento mais justo de perceber nas autoridades. Uma coisa muito séria está se dissipando sem que isso tenha produzido nenhuma catástrofe. Mas produziu, sim, um efeito negativo. Não há nada para comemorar. As perspectivas são razoáveis e vamos conseguir sair dessa. No setor privado e no mercado financeiro não há nenhum sinal de euforia, mas de cautela. Às vezes Brasília produz um sentimento desvinculado da realidade próprio daquele ambiente.

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