"Os que vieram depois"
Que momento é esse que não chega nunca,e a nossa parceria vai sendo adiada?Na rua do outro lado estão os que aguardamo fim da fome e nos olhos têm desconfiança,Sobretudo nas promessas de salvaçãoque há milhares de dias se acumulamSobre os escombros do temposobre os ossos da memóriaAqui estamos, e há pouca luz nos telhadoso horizonte afunda com o solCada homem vê o seu rosto com estranhamento,sua boca deformada por escassez de palavrasAqui estamos, nós que chegamos depoise aguardamos a graça da simpatia em nossos pensamentosNós que perdemos o dom da revoltaa coragem de ser amigos,Aqui estamos cada vez mais ausentes
Chagas, quanta razão nesse teu texto...adorei "aguardarmos a graça da simpatia em nossos pensamentos".
ResponderExcluirPois é, o momento crítico exatamente isso: bocas deformadas, pouca luz nos telhados...e o texto chama a atenção para os do outro lado da rua desconfiados, relembrando a responsabilidade que nos pesa.
Mas seu tom otimista foi tudo.Eu também acredito nessa graça.
Um abraço.
Se o poeta fala dos que vieram depois e o depois nada acrescentou ao momento que nunca chega, é que a voz de sussuro da alma mantém a mesma chama sobre os ossos da memória, como um borralho sob cinzas, até um dia sem que se note, o dom da revolta surge.
ResponderExcluir[...] quando chegar o momento
ResponderExcluirdo homem ser parceiro do homem,
pensem em nós
com simpatia.Marta F.,
Com esses versos acaba o poema Aos que vão nascer, de Brecht.
Escrevi o poema, como um dos que nasceram depois e herdaram um tempo sombrio. E o que é pior, não conseguiram desanuviá-lo.
José, o seu comentário em si já é um belo poema.
Abraços.