segunda-feira, 27 de abril de 2009

UMA CIVILIZAÇÃO IGUAL A UM ORGANISMO VIVO

Amanda Teixeira publicou texto do Umberto Eco que afinal reflete a fragilidade das atuais mídias como guarda da memória da humanidade. Não nega todas as vantangens de divulgação e acesso existentes, mas levanta a lebre da fragilidade de sua integridade para o futuro. Salvo melhor avaliação, o que percebemos em nossas janelas do mundo é que a "integração", a "sistematização" e a "interoperabilidade" parecem nos conduz a recursos extraordinários em termos presentes quando comparados ao passado, mas de uma fragilidade de graves extensões. De graves consequências pois extremamente abrangentes, desde os grandes centros urbanos até a floresta, desde o computador pessoal num quarto até sistemas estratégicos essenciais à vida: transmissão de energia, comunicações, controle de tráfico, guardas pessoais e um infinito de outras possibilidade inteiramente neste ambiente. O ambiente que envolve energia elétrica, eletro-eletrônica, computação e telecomunicações. Mais do que nunca dependentes de energia elétrica.

Basta se ter mais de trinta anos para saber-se o que ocorreu com os carros. A introdução de circuitos impressos na sistemática dos automóveis levou a se ter carros que param de repente, dão pau e não adianta levantar o capô. Não existe o mecânico da esquina, tudo agora depende do computador para ajustar. Outro dia um amigo, que tem uma destas camionetes fabolosas de caras, com que o governo do Ceará contemplou a concessionária para sua polícia militar, bateu muito de leve numa moto. Ele dobrava e a moto foi ao encontro do pneu dianteiro. O motoqueiro sofreu alguns arranhões, um espelho reprovisor quebrou e se satisfez com 60 reais para se corrigir. Já a camionete? Soltou uma barra de tração inteligente que direciona os pneus dianteiros e não saiu mais do lugar. Teve que seguir rebocada. Preço do conserto: mais de quatro mil reais.

Na edição da semana passada a Revista Carta Capital publica uma matéria a respeito de um apagão nas telecomunicações na California. Três condados da California (Santa Clara, Santa Cruz e San Benito) ficaram sem acesso as linhas de telefone fixo, celulares e serviços de internet. Foi uma sabotagem muito simples: criminosos levantaram tampas pesadas de bueiros à beira de estradas e fizeram cortes nos cabos de fibra ótica. Numa dimensão incrível foram afetados numa mesma manobra: hospitais, lojas, bancos, serviços de emergência, caixas automáticas e serviços de cartões de créditos. Imaginem a quantidade de funções que foram cessadas com a ausência deste cabo ótico solitário, junto com outros em cadeia, gerando um verdadeiro "infarto" na função vital da sociedade.

Todos lembramos da perplexidade com aquele boeing enorme da Gol com mais de cem pessoas à bordo se precipitando em alta velocidade em direção ao chão deste dos mais de 11 mil metros em que voava. Um ponto vital da sua fuselagem fora atingido por um avião menor que continuou seu vôo até um aeroporto seguro. E isso a que vem?

A organização da civilização era mais dispersa, interdependente e sujeita a forças imprevisíveis da natureza. Agora ela é cada vez mais orgânica e assemelhada ao próprio organismo humano, com suas enormes fragilidades, de sangria incontrolável e de arrtimia que cessa todas as funções.

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