quarta-feira, 27 de maio de 2009
CIÊNCIA E REALIDADE - HUXLEY
"Nenhum relato do quadro científico do universo e sua história poderia ser completo, a menos que contivesse um lembrete do fato, freqüentemente esquecido pelos próprios cientistas, que tal quadro nem sequer exige ser inteligível. Do mundo em que realmente vivemos, do mundo que os nossos sentidos nos fornecem, das nossas intuições de beleza e bondade, nossas emoções e nossos impulsos, nossas disposições e nossos sentimentos, o homem de ciência abstrai um particular, simplificado universo de coisas, possuindo aquelas qualidades que se convencionou chamar de "primárias". E o faz arbitrariamente, porque acontece que é conveniente: como os seus métodos não lhe permitem tratar com a imensa complexidade da realidade, seleciona do todo da experiência somente aqueles elementos que podem ser pesados, medidos, numerados, que se prestam de alguma forma a um tratamento matemático. Pelo uso dessa técnica de simplificação e abstração, o cientista tem conseguido um apreciável grau de entendimento e domínio do ambiente físico. O sucesso foi intoxicante e, com uma falta de lógica que, dentro das circunstâncias, foi sem dúvida desculpável, muitos cientistas e filósofos vieram imaginar que esta proveitosa abstração da realidade era a própria realidade. A realidade, como é verdadeiramente experimentada, contém intuições de valor e significância, contém amor, beleza, êxtase místico, indícios de divindade. A ciência não possuiu e até agora não possui instrumentos intelectuais com os quais possa tratar desses aspectos da realidade" (HUXLEY,1975,pp.251-252).
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