quarta-feira, 27 de maio de 2009

HOMEM E NATUREZA - NASR

NASR, SEYYED HOSSEIN - O Homem e a Natureza, ("Espírito e Matéria"), Rio de Janeiro, Zahar, 1977, pp.139, trad.: Raul Bezerra Pedreira Filho, Man and Nature, Londres, George Allen & Unwin, 1968.

"A natureza é, no todo, mais rica que o conhecimento a que a física chega através de seus métodos quantitativos e que são seletivos tanto em seus dados quanto na interpretação destes. A física é uma ciência da natureza limitada pelas próprias seleções que faz da realidade externa, bem semelhante ao ictiólogo que usa uma pequena rede de pesca, exemplo que Eddington tornou bem conhecido. Igualmente, o próprio fato de suas conclusões se basearem em experimentos implica que sua validade mantém-se apenas dentro das condições destes experimentos. A física então, como as outras ciências da natureza, é uma ciência específica das coisas, legítima dentro de suas próprias suposições e limitações, mas não é a única ciência válida do mundo natural. A física nos dá um certo conhecimento do mundo físico, mas não todo o conhecimento de que se necessita, especialmente na medida em que diz respeito à relação integral entre homem e natureza. As próprias qualidades, formas e harmonias que a física deixa de lado devido a seu ponto de vista quantitativo, muito longe de serem acidentais ou desprezíveis, são os aspectos mais estreitamente ligados à raiz ontológica das coisas. É por isso que a aplicação de uma ciência que despreza estes elementos provoca desequilíbrio e gera desordem e feiúra, especialmente num mundo onde não existem outras ciências da natureza e não há sabedoria ou sapientia que possa colocar as ciências quantitativas da natureza em seus devidos lugares no esquema total do conhecimento.
Devido à ausência desta ciência total esquece-se também que os fenômenos participam de muitos níveis cósmicos e sua realidade não se esgota num único nível de existência, o último de todos, o material. [...] Por esta razão não há uma única ciência da natureza, mas sim diferentes quadros e visões do mundo, cada um válido até o ponto em que pode descrever um denominado aspecto da realidade cósmica. Não é verdadeiro dizer-se que o sol é apenas gás incandescente, embora isto seja um aspecto da realidade. É também tão verdadeiro quanto dizer-se que o Sol é o símbolo do princípio inteligente do Universo, sendo que este elemento é um aspecto de sua realidade ontológica tanto quanto as características físicas descobertas pela astronomia moderna" (NASR,1977,p.120).

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