O SUDS era o SUS quando ainda tinha o “D”. Sistema Único e Descentralizado de Saúde. Uma revolução na saúde pública que ocorria antes mesmo da constituinte de 1988. Hésio Cordeiro era presidente do INAMPS e transferiu todo o poder e recursos da instituição para as Secretarias Estaduais de Saúde. Enfim, era o início da fusão de instituições, do encontro de funcionários e funcionárias que até então, trabalhavam em projetos paralelos. Essa a matriz da narrativa. A outra? É a mulher do SUDS que não se trata daquela que vem nos próximos parágrafos.
Ela vindo de uma cidadezinha do extremo sul do Ceará (por incrível que pareça o Ceará tem sul), já naquela região em que a identidade tem cores de Pernambuco. A manada de gado que pasta de um lado, também pasta no outro. Ele um urbano básico, melhor dizendo: essencial. Nascido, criado e formado em Porto Alegre. Ambos com graduação em saúde, aliás, naquela fronteira em que uma se funde à outra: medicina e farmácia.
Foi naquela marcha do encontro da saúde previdenciária e da saúde pública que os dois se encontraram. Conheceram-se num evento em alguma cidade do Brasil e os vetores que antes apontavam para o norte e para o sul, fundiram-se numa derivação a Centro Oeste. Hoje formam um casal, moderno (não digo pós-moderno, pois tal palavra me desperta um tédio de fim de tarde) em todas as acepções da palavra: tomam vinho, gostam de jazz, lêem em inglês, vêem filmes em DVD, navegam na internet e trabalham com assuntos de uma misturação tal em que nenhuma disciplina sobrevive.
Cada um tem seu carro e só estão na mesma casa quando combinam. A agenda é cheia e, espacialmente, distante. Mas namoram muito, agora mais que um casal antes dos sessenta consegue. Ela vive riscando as altas atmosferas: nunca se encontrará onde um de nós estiver. Hoje na Áustria, depois na Austrália, em Dresden ou Estrasburgo, seja na Pensilvânia ou em Montreal. Quando os dois precisam ficar juntos, marcam encontro em Copenhagen.
Retornemos aos anos 80, o grupo ABBA já se desfizera por crise de casamento e os dois se amavam por via aérea. Ora em Fortaleza, noutra em Brasília. Um dia ela chega, plena de saudade e naquele exuberante pôr do sol de Brasília faz a pergunta em tom romântico: você saiu com alguém? Era tudo que uma nordestina gostaria: mostrar-se enciumada, saber que o macho nem sobre tortura confessa a traição e, finalmente, demonstrar por outras vias que a vingança na eventualidade seria fatal. Serena, fez a pergunta e a estante de livros da cultura cearense caiu-lhe inteira por cima.
Ele: saí com a mulher do SUDS. Uma mudez igual a antes de haver mundo. Só o coração dela borbulhava com o inusitado da resposta. Jamais uma sinceridade daquela. Esperaria tudo menos aquilo, era a chave para se apossar do homem e ele, com a maior naturalidade, com a modernidade evaporando-se por cada poro, deixava-lhe um deserto para andar. E andou.
Só numa destas noites de vinho e massa, o assunto retornou. Ele nem lembra da mulher do SUDS. Mas estas letras não esqueceram: onde estás, mulher do SUDS? Alguém me respondeu: neste ficar estonteante das noitadas fugazes.
Ela vindo de uma cidadezinha do extremo sul do Ceará (por incrível que pareça o Ceará tem sul), já naquela região em que a identidade tem cores de Pernambuco. A manada de gado que pasta de um lado, também pasta no outro. Ele um urbano básico, melhor dizendo: essencial. Nascido, criado e formado em Porto Alegre. Ambos com graduação em saúde, aliás, naquela fronteira em que uma se funde à outra: medicina e farmácia.
Foi naquela marcha do encontro da saúde previdenciária e da saúde pública que os dois se encontraram. Conheceram-se num evento em alguma cidade do Brasil e os vetores que antes apontavam para o norte e para o sul, fundiram-se numa derivação a Centro Oeste. Hoje formam um casal, moderno (não digo pós-moderno, pois tal palavra me desperta um tédio de fim de tarde) em todas as acepções da palavra: tomam vinho, gostam de jazz, lêem em inglês, vêem filmes em DVD, navegam na internet e trabalham com assuntos de uma misturação tal em que nenhuma disciplina sobrevive.
Cada um tem seu carro e só estão na mesma casa quando combinam. A agenda é cheia e, espacialmente, distante. Mas namoram muito, agora mais que um casal antes dos sessenta consegue. Ela vive riscando as altas atmosferas: nunca se encontrará onde um de nós estiver. Hoje na Áustria, depois na Austrália, em Dresden ou Estrasburgo, seja na Pensilvânia ou em Montreal. Quando os dois precisam ficar juntos, marcam encontro em Copenhagen.
Retornemos aos anos 80, o grupo ABBA já se desfizera por crise de casamento e os dois se amavam por via aérea. Ora em Fortaleza, noutra em Brasília. Um dia ela chega, plena de saudade e naquele exuberante pôr do sol de Brasília faz a pergunta em tom romântico: você saiu com alguém? Era tudo que uma nordestina gostaria: mostrar-se enciumada, saber que o macho nem sobre tortura confessa a traição e, finalmente, demonstrar por outras vias que a vingança na eventualidade seria fatal. Serena, fez a pergunta e a estante de livros da cultura cearense caiu-lhe inteira por cima.
Ele: saí com a mulher do SUDS. Uma mudez igual a antes de haver mundo. Só o coração dela borbulhava com o inusitado da resposta. Jamais uma sinceridade daquela. Esperaria tudo menos aquilo, era a chave para se apossar do homem e ele, com a maior naturalidade, com a modernidade evaporando-se por cada poro, deixava-lhe um deserto para andar. E andou.
Só numa destas noites de vinho e massa, o assunto retornou. Ele nem lembra da mulher do SUDS. Mas estas letras não esqueceram: onde estás, mulher do SUDS? Alguém me respondeu: neste ficar estonteante das noitadas fugazes.
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