quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Cego

Homem de pouca fé
não vês todo santo dia
os milagres ao teu alcance?

O bicho peçonhento de cauda venenosa
escondido sob a lixeira do banheiro.

O poste que caiu na esquina
logo após tua passagem.

A tuberculose sumida com uma colher de mel.

O espírito mau que não cegou teu filho.

Homem de pouca fé
basta um escorregão
quando se lava o banheiro
para que se finde toda a tolice.

Agradece aos céus por tua bacia inteira.
O infarto marcado para outro dia.
O aneurisma abortado.

Homem de pouca fé
come em paz teu espetinho de frango.

Mesmo debaixo da tua cegueira
os milagres desçam como chuva.

2 comentários:

  1. Caminhava eu uma estrada, de mãos vazias, mas na companhia de um amigo. Conversávamos, riamos e chorávamos juntos. Comíamos e bebíamos juntos. Dormíamos e acordávamos juntos. Compartilhávamos tudo (ou quase tudo) e – para melhor ou pior – um olhava pelo outro. Um dia chegamos numa encruzilhada. Sabia bem que ambas as estradas se reencontrariam um dia, quem sabe noutra vida, pelo menos na morte. Senti tristeza. Senti que se eu escolhesse a estrada onde reencontraria a minha dignidade e onde evitaria algum sofrimento, teria de abandonar a sua companhia e caminhar só, arriscando perder o pouco que ainda me restava de humanidade, de alegria e tristeza... e de um sonho...

    Momento difícil... Maldita cegueira.

    Faz tempo que sinto que o mesmo milagre que nos arrasta para o fundo do poço é milagre que nos liberta... e vice-versa.

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  2. Tiago, você um rapaz inteligente e sensível.
    Sua alma aguçada já vislumbra nuances. E ainda há tanta estrada.
    Nunca perca a sua Voz.

    Um forte abraço.

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