quarta-feira, 3 de junho de 2009

CAPITAL E TRABALHO NAS ADIVINHAÇÕES DO AMANHÃ

Depois de mantras à exaustão, do mercado virtuoso e da felicidade do consumo, a equação retornou ao século XIX. De fato o velho capitalismo de guerra é mesmo um embate, ou uma dualidade, entre capital e trabalho. A ciência e o desenvolvimento tecnológico criaram uma cortina de fumaça sobre esta relação. Como o desenvolvimento da tecnologia de base científica implicou em aumento de produtividade, o maior beneficiário desta equação, em termos econômicos, foi o capitalista. Então estava aí a bonança e o motivo para os mantras de então.

Enquanto as economias centrais se assentavam numa nova era pós segunda guerra, o trabalho teve ganhos sucessivos ao longo das décadas de 50 e 60. Foi a época de ouro da economia americana, quase a metade das famílias era de classe média e esta era formada por grandes contingentes de operários especializados e semiespecializados. O capitalismo americano se desenvolvia com o aumento do valor do trabalho. Isso era adequado numa sociedade que forjava forte base consumista.

Mas o sistema mundial de mercadorias também se desenvolvia à distância: Japão, Sudeste Asiático, China, a União Soviética, a América Latina e assim em outras economias. As rotas comerciais ficaramm cheias de produtos não apenas de ganho de produtividade, mas por rebaixamento dos ganhos de trabalho. Mesmo o avanço tecnológico repercutindo em ganho de produtividade não mais incorpora valor aos salários. Os capitalistas absorvem tudo.

Mas e a fórmula consumo e renda do trabalho como ficou? Entrou em crise, já que o trabalho não teve ganho de renda. A partir do fim do padrão ouro, ou fechamento do ciclo de Bretton Woods, a produtividade aumentou, mas o trabalho estagnou a renda. Nos EUA, o grande laboratório do moderno capitalismo, havia mercadoria em abundância, um padrão de vida avançado em termos de consumo, mas as pessoas não tinham renda. Vejam como é diferente do Brasil, este país até agora exportador: aqui a ideologia dominante é achatar os salários, para vender melhor na mercancia internacional.

Um parêntese. Na introdução recente das políticas compensatórias, tipo o bolsa família, não raro recebemos e-mails com feroz crítica a elas. Não raro eram oriundas até de pessoas de classe média, sem contar os trogloditas de sempre, nordestina que se acostumara a explorar as filhas de famílias pobres em serviços domésticos. Fazendeiros que viviam da baixa diária do trabalhador passaram a ter a concorrência de uma renda alternativa, considerando inclusive o aumento do salário mínimo. Apenas para que vejamos como a ideologia nacional era diferente da americana.

Mas voltando aos fatos. O salário do trabalhador americano está baixo, não tem como comprar a mercadoria do capitalista. O que faz este? Através do sistema financeiro empresta seu excedente de capital ao próprio trabalhador. Assim o mundo era de fato virtuoso: o capitalista ganhava duplamente, no achatamento do salário e no endividamento das famílias trabalhadoras. Aí se encontra não mais o virtuoso, mas o vicioso, já que sucessivas bolhas de endividamento explodem a cada metade de década.

Deste modo poderemos nos encontrar no fim do capitalismo de estilo americano, que tinha como componente essencial os ganhos de trabalho. Neste sentido um mundo mais equilibrado teria que surgir por meio de novas instituições, mas próximas daquelas da social democracia social, em que o componente central não seja mais a renda das famílias, mas políticas públicas de sustentação geral das famílias? Um caminho para o socialismo?

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