domingo, 28 de junho de 2009
O QUE ESTAMOS BUSCANDO? O MISTÉRIO DO SENTIDO DA UNIDADE DE SER
Bernardo Melgaço
O que estamos buscando? Qual a orientação que queremos dar em nossas vidas? Certamente, não queremos apenas "quantidade de vida", ou mesmo "vida incompleta". Almejamos algo mais. Algo que possamos desfrutar completamente em vida. Ou seja, algo que possua valor, peso, sentido, dimensão e, portanto, QUALIDADE. Queremos encontrar a essência das coisas da vida.
Queremos encontrar sem saber o que, como e onde. Tateamos no escuro da percepção na busca da essência das coisas da vida. Por isso, ansiamos em encontrar em cada coisa esse ponto, esse centro essencial. Sabemos por experiências, que a vida só tem sentido quando vislumbramos encontrar uma referência dessa essência fundamental. A essência que nos anima. Todo nosso esforço, todas as nossas descobertas têm por intenção, mesmo indiretamente, a reorientação de nossas visões para o centro essencial da vida. É a vida e a sua existência a questão chave. Viver por viver não tem valor, não tem significado algum. Precisamos experimentar o belo, o agradável, o saboroso, o extasiante, o apaixonante, o romântico, o sútil, o amoroso, o confiável, e assim por diante. Essa é a busca que consciente ou inconscientemente realizamos todos nós.
É essa experiência tateante que nos empurra para frente. Inevitavelmente caimos, mas logo levantamos. Sofremos e desejamos. Matamos e morremos. Mas, o grande sonho é a esperança de encontrar, ou melhor, de experimentar a grandeza de algo superior a nós mesmos (em nós mesmos).
Daí o surgimento da crise. Mas, também como consequência o conflito e a oportunidade de encontrar a trilha da Verdade maior: "Vocês conhecerão a Verdade. A Verdade vos libertará". É preciso continuar. Desistir nunca. Assim, com nossa visão obscurecida, caimos e mergulhamos num oceano de conflitos, guerras, desajustes e desequilíbrios. E poucos são os "buscadores" que escapam da força magnetizadora do mundo das formas. De "buscadores" nos tornamos vítimas. Nos misturamos ao mundo que no início queríamos desvendar. É o paradoxo do caminho do homem em busca da essência das coisas.
Assim, mesmo inconsciente, desejamos encontrar uma referência do caminho certo. Em dado momento nos perguntamos: qual é o caminho verdadeiro? Será que existem vários caminhos? Ou, será que existe apenas um único caminho? Buscamos aqui e ali essas respostas tanto na ciência quanto na religião. Tentamos decifrar, interpretar e traduzir os caminhos traçados pelos grandes mestres que passaram pela Terra. Mas, isso é tudo em vão. Não encontramos, de pronto, a resposta adequada. Várias são as referências, os marcos deixados por aqueles que conseguiram caminhar. Mas, tudo em vão.
Existe um mistério que permeia a nossa busca da essência das coisas. Os marcos deixados nos apontam em direção à perfeição, à beleza e à unidade. De forma que, ficamos na intenção, no desejo de querer "uma estrela no céu, enquanto nossos pés estão presos na Terra".
Romper com os grilhões que nos aprisiona ao "chão da Terra" é o desafio de sermos totalmente livres para vivenciarmos a "estrela no céu". De maneira que, estamos sempre conformados com esse destino que nós mesmos criamos. É preciso ganhar asas e voar para pontos mais altos do nosso "céu-ser". Mas como fazer isso? Não sabemos, enquanto sociedade, como fazer essa tarefa suprema.
Ao longo de vários séculos acumulamos muito conhecimento. Hoje conhecemos muito. Muito mesmo. No entanto, paradoxalmente, não sabemos o que nos é de fato essencial para viver. Esse é o grande mistério: nem muito, nem pouco, nem mais e nem menos. Mas o essencial. O essencial é tudo que precisamos.
O essencial torna-se o que nos é oculto sempre. Cabe aqui uma pergunta: o que é mesmo "essencial"? Será que é essencial ter? Ou será que é ser? É essencial adquirir bens materiais? Ou será que os bens materiais são necessários? O essencial é uma questão de quantidade ou de qualidade? Possuir isso ou aquilo é essencial ou é útil? Útilidade e essencialidade são as mesmas coisas?
O mundo que criamos é centrado na utilidade ou essencialidade das coisas? Creio eu, que o mundo moderno gira sob o eixo da útilidade. Queremos as coisas que nos são úteis. Não podemos, ou melhor, não conseguimos trocar o que é essencial. Trocamos o que é útil entre nós. Não podemos trocar o ar, o vento, o clima, o chão, etc. Trocamos o que é útil para o bem comum de um grupo, sociedade, tribo ou clã. É importante analisarmos essa questão de forma mais profunda.
O essencial já existe e sempre existiu antes das necessidades humanas. O essencial não pode ser criado pelo homem. O homem cria e projeta as coisas úteis para si. A vida é essencial. Não podemos trocar a vida. Não podemos vender a vida. Podemos trocar sapato por dinheiro. Podemos vender roupas, alimentos, etc. O essencial não está associado a "quantidade de", mas a "qualidade de" vida. É claro, que existe um valor essencial na própria quantidade. Mas, não é a quantidade que determina o valor essencial. Por exemplo, as vezes faz-se necessário uma quantidade de água, ou seja, um valor essencial de volume de água para saciar nossa sede. O essencial é a nossa satisfação existencial.
Se não percebemos isso continuaremos confundindo as coisas. Continuaremos valorizando a utilidade das coisas e não a essencialidade. Essa distorção vem causando sérios danos e desajustes no sistema energético humano. Com essa visão apurada podemos melhor compreender os desvios. Por exemplo, o trabalho social numa empresa é útil ou essencial? Certamente que é útil para a troca com dinheiro, mas não é essencial. Essencial é o trabalho ou esforço individual que cada um precisa realizar em si mesmo a fim de alcançar o equilíbro ontológico/existencial. Podemos ver, então, que não podemos sobreviver apenas com o trabaho útil. O trabalho útil não consegue por si mesmo nos manter vivos com saúde. Se nos esforçamos continuamente no trabalho útil geramos "stress", desequilíbrio e portanto, doenças. E consequentemente sofrimento e perda do valor essencial da vida.
O trabalho útil precisa estar subordinado ao trabalho essencial. Ou seja, se estamos equilibrado em nossa estrutura interior, podemos então, utilizar melhor nossas capacidades físicas. A produção essencial não pode ser medida. Ela apenas deve ser incentivada. A produção oriunda do trabalho essencial gera bens não-econômicos: paz, equilíbrio, harmonia, felicidade, alegria, bem-aventurança, etc. Essas coisas são essenciais para todos nós. Sem isso, a vida perde total sentido de existência.
O que aconteceu para que nos desviássemos tanto desse trabalho essencial? Creio eu, que foi a supervalorização do trabalho útil em detrimento do outro essencial. Invertemos a natureza das coisas. Forçamos um caminho. Nos iludimos com as nossas descobertas. O homem moderno está adoecendo e perdendo o controle de suas próprias energias vitais. O aumento do número de hospitais, médicos, psicólogos indica não a evolução de uma sociedade, mas ao contrário do que pensamos, indica um grande problema nos desequilíbrios de valores de utilidade das coisas.
A nossa psique desaprendeu a exercitar os valores essenciais. Vivemos submersos num mundo de valores utilitaristas. Valores de consumo de utilidades. A natureza é governada por princípios essenciais, valores naturais. Não podemos normatizar um valor natural. Podemos acordar sobre um valor artificial ou virtual. A bondade é um valor essencial ou natural. E sempre existiu em qualquer civilização humana. Da mesma forma, a fé, a fraternidade, a amizade, o perdão, etc.
O trabalho essencial é hierarquicamente superior ao trabalho útil. O caminho essencial é estreito e sua porta pequena. Retornar a trilha do trabalho e da produção essencial é a grande conquista de que precisamos para efetivamente sabermos quem nós somos. Ser essencial. E não apenas ser útil: médico, engenheiro, motorista, enfermeiro, etc. O essencial é perene. O útil é provisório, temporal. Não conseguiremos mudar a rota de conflitos se não mudarmos a busca. Do útil para o essencial. O essencial requer renúncia e restrição. O mestre Einstein, foi um dos raros seres que vislumbraram isso. Vejamos, o que ele disse (Como Vejo o Mundo, Nova Fronteira):
"Se quisermos uma vida livre e feliz, será absolutamente necessário haver renúncia e restrição" p.64
E o mestre Jesus Cristo também chegou a dizer:
"É mais fácil um camelo atravessar o buraco de uma agulha do que um homem rico ir para o Reino do Céu"
É preciso mudar a rota da busca. Da utilidade da qualidade para a essencialidade da qualidade. Essa mudança deve ocorrer dentro de cada indivíduo. É no homem e não nos produtos físicos que a qualidade deve se desenvolver. É claro, que como resposta da visão interior podemos criar produtos mais úteis para o nosso benefício. Mas, a recíproca não é verdadeira, ou seja, a qualidade dos produtos não produzirá no homem a mudança de rota. Produzirá mais valores utilitaristas. Reforçará o caminho da utilidade. E de seus valores de uso e troca.
Seguindo dessa forma o homem se afastará cada vez mais daquilo que ele mais quer encontrar: a qualidade de vida total, realizada na vivencialidade do Amor Cósmico Universal. Esse afastamento produzirá no homem moderno, um aumento de tensão interior. Essa tensão em processo de crescimento conduzirá o homem a utilizar seus valores utilitaristas na projeção, na explosão psíquica inevitável. O homem poderá se autodestruir. A busca do Amor é a meta. É imprescindível para o desenvolvimento equilibrado de qualquer sociedade humana. Sem Amor, a vida é vazia, oca, sem valor, sem sentido verdadeiro e sem essência.
RJ, OUT/1992
Sr Melgaço na luta pela transformaçao das pessoas. Admirável sua labuta. Os textos longos também são lidos a propósito do que disse um colaborador usando a palavra "preguiçosos". Confesso que saltei alguns sobre a canonização de santos, confesso contudo que entendo a adoração aos santos, foram pessoas admiráveis em vida e por isso reverenciados(meu pai era um catolicista contador de histórias, ouvi várias). Creio que a fé em qualquer coisa funciona, não pelo objeto, pela força depositada.
ResponderExcluirBernardo enseja dizer mais e atiça sobre a ciência a curiosidade dos terráqueos que não tem esse acesso, esperando o cientista lhes presentear com artigos que fervilhem sobre as novidades desta área tão interessante. Talvez fosse um contra-ponto à literatura de auto-estima, às vezes causadora da "preguiça" dos leitores.
Um guerreiro, um santo, um cientista. Meu abraço.
Marta, Obrigado!
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