quinta-feira, 11 de junho de 2009

RECOMENDO A LEITURA A QUEM SE INTERESSE POR EDUCAÇÃO

Por vezes ouvimos ou lemos pessoas desesperadas com a atualidade e pondo toda a culpa sobre o governo (ou sobre o sistema econômico ou político). Agora mesmo não é raro ler-se frases falando sobre o Brasil: educação zero, saúde zero, segurança zero, fazendo efeito com o fome zero, programa do governo federal. Acontece, na verdade, é que os problemas da segurança, da saúde pública e da educação, assim como do meio ambiente, da cultura, da demografia e social (o risco do fim das famílias), são problemas mundiais e, portanto, da própria civilização globalizada. Por isso, independente das nossas frases de desespero, precisamos de maior profundidade de análise, maior debate e, claro, maior compreensão.

Assim, tomei “emprestado” ao blog terra magazine esta postagem do professor Nelson Pretto que se encontra no centro do debate da educação na Inglaterra. Aproveito para recomendar aos leitores que se tiverem dificuldade de entender estas tecnologias da internet como Twitter, blogs etc., procure no Google e se inteire para identificar melhor do que se fala. Embora, como veremos, o problema não seja apenas de tecnologia e nem simplesmente didático ou de desempenho.

Fator "uaauu"

Nelson Pretto é professor associado da Faculdade de Educação/UFBA e visitante da Universidade Trent de Nottingham. E-mail: nelson@pretto.info

A crise da educação é tema constante em todos os países. Todos reclamam dos baixos índices de aprovação, da violência nas escolas, dos sistemas de avaliação que não dão conta dos desafios contemporâneos, da universidade que não prepara para o mundo profissional tampouco para a vida. Mas essa é uma crise anunciada, uma vez que pesquisas realizadas há muito já a vislumbravam.

Na Inglaterra, a situação é dramática neste final de ano letivo (o verão começa agora em junho). Os dados apontam uma crise sem precedentes no que diz respeito à empregabilidade dos alunos que agora estão se formando. Recente pesquisa realizada pela "Chartered Institute of Personnel and Development" anunciou que 50% dos empregadores entrevistados não estão pensando em contratar recém-graduados. Em função da gravidade da situação, o professor David Blachflower, até recentemente membro do comitê monetário do Banco da Inglaterra, alertou o governo para o que considera o maior desafio atual do país, o "desemprego da juventude".

No âmbito do ensino básico inglês, o que aqui e acolá se vê são projetos e políticas públicas que buscam - sem sucesso, como os números indicam - transformar a educação e criar algum tipo de motivação (não gosto dessa palavra, mas ela costumeiramente é usada nesse contexto) para que a juventude permaneça na escola. Foi proposta recentemente a redução do número de áreas de aprendizagem de 13 - as áreas mais tradicionais, tais como ciências, biologia, história, etc. - para seis áreas de maior abrangência. O interessante dessa proposta é a introdução, de forma explicita, do uso das tecnologias de comunicação, a exemplo dos blogs, twitter, orkut e todos os demais elementos da chamada mídia contemporânea. A proposta, a ser implementada até 2011, propõe áreas de aprendizagem mais amplas, tais como compreensão do Inglês, comunicação e linguagens, compreensão científica e tecnológica, compreensão do humano, social e ambiental, entre outras. A confusão já está estabelecida, com reclamações de todos os lados, pois, como já estamos lamentavelmente acostumados na educação, tal proposta foi pouco discutida, segundo os sindicatos docentes. A própria mídia, que tem tratado muito da educação, termina polarizando o debate entre, por exemplo, se é importante ensinar Twitter ou Segunda Guerra Mundial e, claro, isso tem um grande efeito sobre os pais e a população. Evidentemente esse não é o ponto central e, como de costume, uma cortina de fumaça cai sobre a importância de discussões mais profundas sobre a educação.

Por outro lado, a proposta inglesa se reporta à necessidade de um "currículo criativo", o que para mim é uma redundância, uma vez que tanto currículo como escola têm na criatividade e na criação seus elementos mais fundamentais. Chegam a cogitar de inserir um "fator uaauu" (wow factor) no currículo, como elemento de impacto nas escolas, para "prender" a atenção das crianças e jovens. Também essa é uma antiga discussão, pois não estamos aqui a falar de espetáculos, onde os estudantes precisam ser "motivados" e o professor tem que ser um ator - de preferência cômico, como em muitos dos nossos cursinhos de vestibular - para que os alunos possam "apreender" os assuntos. Educação é muito mais do que isso. Educação é diálogo permanente e aqui, quando falamos em diálogo, tratamos deste em pelo menos dois níveis. Um no âmbito das escolas e outro no âmbito das famílias. Nestas, essa prática, que deveria ser constante, em muitos casos praticamente deixou de existir, seja pela enfraquecimento da família enquanto espaço de diálogo, seja pela própria inexistência desta.

Um intenso e permanente diálogo é conversa que flui, é um verdadeiro jogo de ir e vir, de ouvir e falar, de ceder e conceder. Mas é também o exercício da autoridade - não do autoritarismo - nos momentos necessários.

Um outro diálogo é aquele entre o conhecimento que cada um traz de sua realidade e experiência de vida com a Ciência e a Cultura, estas com "c" maiúsculo mesmo. Mas não como uma imposição destas sobre as demais ciências, saberes, conhecimentos e culturas, aqui todas em minusculo e no plural. A busca por essa convivência permanente entre diferenças, conhecimentos e saberes constitui-se no movimento central para a preparação dos jovens para o mundo. E quando falamos em mundo estamos a nos referir também ao mundo do trabalho, mas não só a este. Falamos de um mundo que ainda nem sabemos como vai se configurar no futuro.

Aqui, temos que retomar a minha preferida questão: o fortalecimento do fundamental papel dos professores nas escolas, este sim, seguramente, o verdadeiro "fator uaauu".

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