quinta-feira, 4 de junho de 2009

Roufenho

A única forma de conquistar a morte
é tapando-lhe a respiração com fumaças.

Beba dos meus sonhos, Senhora.
Nenhum deles é decente.

Meus pulmões choram cinzas
mas enganam bem as visitas.

A tosse só vem de madrugada
quando todos dormem
e felizes roncam.

Beba das minhas lágrimas, Senhora.
Dissimuladas com gelo nas pontas.

Meu fim não se aproxima.
Meu abismo não me abraça.

Clamo pelo céu azulado.
Invoco o cinzeiro do inferno.

Nuvens brancas algodões sobre minha cabeça.
Pontas de cigarro acesas nos meus pés.

Meus desejos se realizam a cada porre
no final do corredor escuro.

Beba da minha loucura, Senhora.
Minha alma é uma corda de viola solta.

Um comentário:

  1. Domingos, sempre Barrosíssimo.

    Se fosse a corda solta da viola seria uma corda solta.
    Mas escreveu a corda da viola solta, a corda não está solta da viola, a viola é que é solta. Bravo!


    Pensei que senhora fosse usado só para mulher casada, mas descubro que é pela idade da mulher quando um vendedor diz:-pois não, senhora...corrigo involuntariamente:-senhorita.Um termo inglês britânico, por que não simplesmente:-pois não, em que posso servir? E senhorita corresponde a solteira, ou a jovem? Senhora então seria "não mais jovem"?
    Enfim, é sinal de respeito, dizem os vendedores, eu só agradeço.

    Bebendo sua loucura, beijos.

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