sexta-feira, 24 de julho de 2009

Afrânio e Júlio César.

Durante a Guerra Civil Romana (49 - 48 a.C), entre as tropas comandadas por César contras os exércitos de Pompeu, uma das batalhas é a conduzida na região de Lérida, Gália (atual Espanha). Após dias de lutas sangrentas e combates grandiosos, o General Afrânio, partidário de Pompeu, fez um pedido de rendição, que se segue, segundo o livro BELLUM CIVILE - Livro Primeiro:


"[84] 1. Enfim, os afranianos, completamente bloqueados, há quatro dias sem forragem, com os animais retidos dentro do acampamento, com falta de água, lenha e trigo, pedem conversações e, se possível, longe da presença de soldados. 2. César recusou a condição e aceitou as conversações desde que fossem públicas; é dado como refém a César o filho de Afrânio.

3. Reúnem-se em lugar escolhido por César. Afrânio se põe a falar perante os dois exércitos: não era justo enfurecer-se com os generais e seus soldados por terem querido manter a lealdade a Pompeu, seu comandante supremo. 4. Mas já tinham cumprido bem com o seu dever e passado por bastantes sofrimentos: tinham agüentado até o fim toda a sorte de privações; agora, porém, acuados, quase como feras, estavam impedidos de beber, de mover um passo; não tinham mais como suportar no corpo a dor e na alma a humilhação.

5. Por isso se reconheciam vencidos; pediam e suplicavam, se houvesse ainda espaço para a compaixão, que não fossem obrigados a caminhar para o derradeiro suplício. Essas declarações são feitas da maneira mais humilde e submissa possível."

Segue a resposta de Júlio César à súplica de Afrânio:



"[85] 1. A elas dá César a seguinte resposta: de todos ele era o único a quem menos calhava o papel de encenar lamúrias e apelos a compaixão; 2. sim, os outros todos tinham cumprido suas responsabilidades: ele, César, que, mesmo em condições propícias, em lugar e momento favoráveis, não quis atacar, para que a abertura para a paz fosse totalmente preservada; o seu exército, que apesar de ser vítima de ultrajes e ter os seus assassinados, poupou e protegeu os adversários que estavam sob seu poder; os soldados do exército inimigo, que por iniciativa própria fizeram tratativas para chegar à paz, no que tiveram em mente salvaguardar a vida de todos os seus camaradas.

3. Portanto, o desempenho de todos os grupos teve como base o sentimento de humanidade. Os chefes, sim, tiveram aversão à paz; não respeitaram as normas da negociação e da trégua, assassinaram com a maior crueldade pessoas ingênuas que se iludiram com a possibilidade de conversações. 4. Acontecera, portanto, com os líderes, o que sói à maioria dos homens de obstinação e arrogância desmedida, a saber, recorrem àquilo que há bem pouco desprezaram e o pedem com a maior ânsia.

5. Não ia ele agora tirar vantagem da humilhação deles e de sua situação favorável e fazer exigências para aumentar suas próprias forças, mas queria que fossem desmobilizados os exércitos que há muito sustentavam contra ele. (...)


11. Tudo isso, no entanto, ele suportou e suportaria pacientemente; seu propósito no momento não era manter para si o exército que lhe tinha sido tirado – coisa que lhe não seria difícil – mas fazer com que não o tivessem para usá-lo contra ele. 12. Portanto, como tinha sido dito, deviam deixar a província e licenciar o exército; se o fizessem, ele não faria mal a ninguém. Essa era a única e última condição de paz.


[86] 1. Essa atitude de César provocou grande alegria e satisfação entre os soldados, como se pôde perceber de suas próprias manifestações, pois eles que teriam esperado um merecido castigo, recebiam até mesmo o prêmio da desmobilização.”

Um comentário:

  1. Darlan: o maior premiado de todos foi o próprio César. A desmobilização do inimigo é a paz definitiva para os vitoriosos.

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