Em seu premiado livro, "O Tempo Saquarema - A formação do Estado Imperial", Ilmar Rohloff de Mattos faz uma análise acurada da construção da ordem imperial brasileira. Conceitos de Estado Imperial e classe senhorial são discutidos e explicados de forma acurada, além da relação entre os mesmos. Importante obra da historiografia brasileira que recomendo a todos os leitores do blog.
Na segunda parte do livro, Rohloff apresenta as diferenças entre os Liberais (Luzias) e os Saquaremas (Conservadores) e demonstra que a explicação de que eram todos "farinha do mesmo saco" pode ser revisada. Recupera as circunstâncias em que as denominações surgiram e como se impuseram.
Os conservadores brasileiros também ficaram conhecidos durante um período como "Regressistas" , defensores do slogan "Regresso à ordem".
Vamos abordar brevemente o grupo dos Saquaremas.
O termo Saquarema passou a ser utilizado de forma mais frequente a partir de 1845, para designar os chefes conservadores daquela localidade (situada na então província do Rio de Janeiro). Apesar disso, o termo foi estendido a outros conservadores.
O espaço é curto e em outro momento, apresentarei alguns líderes conservadores do Império do Brasil, tomando por referência a obra de Ilmar Rohloff. Por ora, vejamos algumas ideias dos conservadores.
- Enquanto os Liberais defendiam a ideia de que os representantes da nação é que deveriam escolher a política a ser seguida, os conservadores se opunham afirmando que isso tornaria o poder executivo apenas uma comissão do poder legislativo. Além disso, o poder Moderador ficaria prejudicado.
- Tinham um conceito qualitativo sobre a "liberdade". Na dimensão privada, afirmavam serem os homens desiguais em seus dotes naturais e habilidades. A desigualdade natural entre os homens se desdobraria em desigualdade na sociedade. Cada indivíduo teria um lugar distinto. Além disso, consideravam que havia outra diferença importante: a entre os homens livres e os escravos. Na dimensão pública, o conceito de liberdade cruzaria com o de responsabilidade. Defendiam a distinção entre os"cidadãos ativos" e os "cidadãos inativos" , aqueles que não possuiriam o direito de atuar politicamente. Mesmo no interior do mundo dos "cidadãos ativos" , havia a defesa da distinção entre votantes e eleitores.
- Acima de todos, o poder Executivo, na figura do Imperador. Defendiam a importância do soberano e da instituição monárquica, vista como elemento de coesão do corpo político e da sociedade. Para os conservadores, a sociedade não era vista como uma associação voluntária ou por um contrato de indivíduos para formar as leis para todos. Construir a nação, preservar as diferenças, promover a restauração (ordem). Entendiam o passado como um espécie de lição para o futuro.
- Divulgavam suas idéias em jornais como "O Brasil" , de 1837, onde defendiam um "guerra" sem tréguas contra os liberais e a defesa dos valores da "boa sociedade". Apresentavam-se como os defensores de um "poder administrativo", desqualificando o exercício da política, ao afirmarem a neutralidade nas questões do Estado na busca da "harmonia" e da "ordem".
- Dessa maneira, tornavam-se dirigentes mas não se diziam "políticos". Se apresentavam como diferentes dos elementos dos demais mundos (livres comuns e pobres, escravos). O tom hiperbólico, a tendência à oratória, a linguagem grandiloquente e o transboramento emocional eram marcas de sua passagem nos cargos públicos.
Em outro momento, apresentaremos mais características dos conservadores do Império para compormos o nosso quadro. Suas origens e composição social.
Referência
MATTOS, Ilmar Rohloff. O tempo saquarema - a formação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec, 1990.
(Obra vencedora do Prêmio Literário Nacional, 1986, Gênero História, Instituto Nacional do Livro, MinC)
Este pequeno texto dos Saquaremas que o Darlan posta aqui deve ter sido objeto de atenta leitura e reflexão sobre o presente. Os padrões de compreensão da sociedade, da política, do Estado e do Governo continua tem marcada origem, para algumas pessoas, na mesma corrente daquela do século XIX. Quando se fala em anacronismo, não é um substantivo de qualificação, representa uma realidade atual.
ResponderExcluirConcordo com o José do Vale. O discurso do apelo ao passado, da desigualdade entre as pessoas como algo natural, a defesa então dessa "ordem", a crítica à política em nome da administração etc etc estão bem presentes.
ResponderExcluirOs regressistas não brincavam.
O livro mostra até como os conservadores se apropriaram do termo "revolução" e o trasnformaram em regresso.