domingo, 26 de julho de 2009

Os Saquaremas.

Em seu premiado livro, "O Tempo Saquarema - A formação do Estado Imperial", Ilmar Rohloff de Mattos faz uma análise acurada da construção da ordem imperial brasileira. Conceitos de Estado Imperial e classe senhorial são discutidos e explicados de forma acurada, além da relação entre os mesmos. Importante obra da historiografia brasileira que recomendo a todos os leitores do blog.

Na segunda parte do livro, Rohloff apresenta as diferenças entre os Liberais (Luzias) e os Saquaremas (Conservadores) e demonstra que a explicação de que eram todos "farinha do mesmo saco" pode ser revisada. Recupera as circunstâncias em que as denominações surgiram e como se impuseram.

Os conservadores brasileiros também ficaram conhecidos durante um período como "Regressistas" , defensores do slogan "Regresso à ordem".

Vamos abordar brevemente o grupo dos Saquaremas.

O termo Saquarema passou a ser utilizado de forma mais frequente a partir de 1845, para designar os chefes conservadores daquela localidade (situada na então província do Rio de Janeiro). Apesar disso, o termo foi estendido a outros conservadores.

O espaço é curto e em outro momento, apresentarei alguns líderes conservadores do Império do Brasil, tomando por referência a obra de Ilmar Rohloff. Por ora, vejamos algumas ideias dos conservadores.


- Enquanto os Liberais defendiam a ideia de que os representantes da nação é que deveriam escolher a política a ser seguida, os conservadores se opunham afirmando que isso tornaria o poder executivo apenas uma comissão do poder legislativo. Além disso, o poder Moderador ficaria prejudicado.


- Tinham um conceito qualitativo sobre a "liberdade". Na dimensão privada, afirmavam serem os homens desiguais em seus dotes naturais e habilidades. A desigualdade natural entre os homens se desdobraria em desigualdade na sociedade. Cada indivíduo teria um lugar distinto. Além disso, consideravam que havia outra diferença importante: a entre os homens livres e os escravos. Na dimensão pública, o conceito de liberdade cruzaria com o de responsabilidade. Defendiam a distinção entre os"cidadãos ativos" e os "cidadãos inativos" , aqueles que não possuiriam o direito de atuar politicamente. Mesmo no interior do mundo dos "cidadãos ativos" , havia a defesa da distinção entre votantes e eleitores.


- Acima de todos, o poder Executivo, na figura do Imperador. Defendiam a importância do soberano e da instituição monárquica, vista como elemento de coesão do corpo político e da sociedade. Para os conservadores, a sociedade não era vista como uma associação voluntária ou por um contrato de indivíduos para formar as leis para todos. Construir a nação, preservar as diferenças, promover a restauração (ordem). Entendiam o passado como um espécie de lição para o futuro.


- Divulgavam suas idéias em jornais como "O Brasil" , de 1837, onde defendiam um "guerra" sem tréguas contra os liberais e a defesa dos valores da "boa sociedade". Apresentavam-se como os defensores de um "poder administrativo", desqualificando o exercício da política, ao afirmarem a neutralidade nas questões do Estado na busca da "harmonia" e da "ordem".


- Dessa maneira, tornavam-se dirigentes mas não se diziam "políticos". Se apresentavam como diferentes dos elementos dos demais mundos (livres comuns e pobres, escravos). O tom hiperbólico, a tendência à oratória, a linguagem grandiloquente e o transboramento emocional eram marcas de sua passagem nos cargos públicos.
Em outro momento, apresentaremos mais características dos conservadores do Império para compormos o nosso quadro. Suas origens e composição social.



Referência

MATTOS, Ilmar Rohloff. O tempo saquarema - a formação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec, 1990.

(Obra vencedora do Prêmio Literário Nacional, 1986, Gênero História, Instituto Nacional do Livro, MinC)

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